quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010,

espere! Não se vá!

Eu tenho dois mil e dez motivos para você não ir embora. Não que eu ache que vá fazer muita diferença ou que vá fazer você ficar pra mais uma saideira, mas qualé?!... São dois mil e dez motivos, afinal.


(...)



Porque liberdade e sensatez nunca são o bastante. E que 2011 venha cheio disso e muito mais pra todo mundo.


Até.


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Desabafo

Escolha entre o que é certo e o que é fácil.


Ser colocado contra a parede é foda.
De um lado é a parede. Do outro, um dedo audaz apontando diretamente pro seu peito.
E, ainda por cima, pedindo satisfações.

É foda.








Post Scriptum 1: Isso funciona melhor quando eu não penso muito.

Post Scriptum 2: E eu que pensava que num tinha mais nada pra escrever aqui...


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Papo-cabeça

Conversas da vida real.


(...)
Ela: Mas até mesmo Deus segue regras. As coisas não são assim a la vantour...
Eu: Mesmo? E que tipo de regras Ele segue? Porque até onde eu sei, como Criador, foi Ele mesmo quem criou as regras, não?
Ela: É, mas isso não quer dizer que ele não tenha seus próprios princípios. Até para criar regras você tem que ter regras, entende?
Eu: Não.
Ela: E por que você acha que ele demorou seis dias para criar tudo? Tá na cara que não podia ser de qualquer jeito. Regras, meu rapaz.
Eu: Pois me diga uma regra aí a qual Deus segue. Só uma.
Ela: Por exemplo... Hum... Ele não pode interferir no livre-arbítrio... No nosso livre-arbítrio.
Eu: Como assim?
Ela: Ele não pode simplesmente fazer ou deixar de fazer algo que dependa da vontade.
Eu: Tipo?
Ela: Ah... Sei lá. Você não pode simplesmente pedir a Deus que faça alguém amar você. Amar é uma coisa que depende da pessoa, de cada um. Deus não pode forçar ninguém a amar alguém.
Eu: Você fez o teste e quebrou a cara, num foi? Haha.
Ela: Não, lesado. É assim. Ele tem regras... dizendo.
Eu: E como faz quando a gente quer que alguém nos ame?
Ela: Num sei. Vai ver foi por isso que Ele criou o Departamento de Cupidos...
Eu: hUHuahuHAUhauHUAHuahUAHUhauHAUHuahUA.
Ela: hUAHuahuHAUhauHAUhauhUAHuahuHAUhuHAUha.
Eu: Vai ver é por isso que Ele é solteiro.

(...)

Ela: E digo mais:
cupidos são todos cargos comissionados. Não estudaram para estar onde estão. É foda...
Eu: HUAHuahuHAUhauhUAHuahuHAUhauHAUhuahUA...


sábado, 18 de dezembro de 2010

Rasgando parapentes

Eu moro na montanha. Mas não é qualquer montanha; é a minha montanha. A casa onde moro fica exatamente no meio do caminho entre o cume e a base e só se chega lá passando pelo cume. A minha montanha é o paraíso dos parapentistas, que eu não sabia o que era até ver aquele trambolho enorme planando pelo céu ser esforço.

Parapentes de todos os lugares do mundo passam por aqui. Eles vêm, sobem até o alto e se jogam na imensidão com seus equipamentos de vôo até que, muito tempo depois, tocam o solo lá embaixo. Mas teve esse dia que um parapente, meio que sem querer, teve que fazer um polso de emergência nas vizinhanças da minha casa - ele havia rasgado. Eu nada tinha a ver com aquilo tudo, mas não pude deixar de oferecer minha humilde hospitalidade. E aquele era, de fato, um parapente bonito, agradável. Era bom estar com ele. Depois de um tempo que não consigo mensurar e tendo remendado o rasgo, o parapente se despediu e foi ao parapeito da encosta para ir embora, mas eu não deixei. Eu rasguei o parapente novamente e dessa vez o rasgo foi por minha causa, afinal, não queria que ele fosse. E isso me rendeu mais tempo com aquele parapente. Mas aí ele remendou o rasgo de novo e eu, novamente sem que ele soubesse, fiz outro. E era remendado. E eu fazia outro. E era remendado. E assim eu descobri um modo de ter aquele parapente para mim pelo tempo que eu quisesse.

Um dia esse parapente foi embora, é verdade. Mas outros parapentes vieram. E ficaram. Alguns, tamanho o seu encanto, eu fiz questão de rasgar de forma a se consumir muito tempo remendando. Outros eu nem olho quando passam. E agora eu sempre tenho um parapente comigo.
Porque essa é a minha montanha.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Borboletas na barriga

Foi como se alguém tivesse me dado uma caixa cheia de letras, vírgulas e acentos e pedisse para eu fazer um poema.

É, foi exatamente assim. Mas não que eu seja um péssimo articulador da palavra, não. Sou dos melhores e reconheço - deixando a modéstia, que é verdadeira, de lado. Consigo falar no mesmo compasso com que penso e escrever no mesmo com que falo, e isso, sei, é para poucos. Coloco cada ponto-e-vírgula no seu devido lugar porque sei que não possuem a vaidade do ponto-final nem a efemeridade da vírgula. Meço minhas palavras com a precisão de um artesão lapidando uma
Pietà.

Mas isso é na teoria. Porque na hora que eu vi, o pensamento brigou com a fala e a expulsou da cognição. A língua tentou do jeito que pôde descer garganta abaixo como que numa tentativa de não se responsabilizar pela situação. As mãos, sempre desvairadas, inquietaram-se de pronto e esboçaram gestos que, ao meu julgo, não tinha qualquer nexo ou intencionalidade. A fronte embaçou e o coração batia por dentro do esterno com aquele ar de quem pergunta "que merda é essa, bicho?". Isso e eu ainda nem disse o que foi. Ou quem.

Mas só por causa da língua ainda acuada. Não o fosse, diria. Como o é, escrevi.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Desabafo

É impossível separar o ato do sentimento.
É algo indissolúvel, inexorável e irrevogável.

E é foda explicar o porquê.








Post Scriptum: Isso funciona melhor quando eu bebo (mais) cerveja.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Papo-cabeça

Conversas da vida real.


(...)
Eu: É uma discussão pertinente... Saber com quem você está lidando.
Ela: É. Descobri essa semana que só existem dois tipos de pessoas: os Homens-aranha e os Super-homens.
Eu: HQ era moda na minha vida quando eu tinha doze anos.
Ela: Não, é sério, po! Veja: o Homem-aranha não é o Homem-aranha. Ele é, na verdade, o Peter Parker. Ele acorda Peter Parker, veste sua camisa, vai trabalhar, tudo como Peter Parker. Aí quando o negócio pega, ele coloca a roupa e vira o Homem-aranha. O super-herói é só uma camisa que ele veste pra disfarçar seu alter-ego.
Eu: Nem tinha reparado nisso. Juro.
Ela: Engraçadinho...
Eu: E o Super-homem?
Ela: Pronto. O Super-homem nasceu Super-homem, com super poderes, visão de raio-X e o escambáu. Ele veio para a Terra, inclusive, sendo Super-homem. Mas aí calharam de chamá-lo de Clark Kent aqui. Mas quando ele acorda, ele é o Super-homem. Aí ele veste a camisa e vira o Clark Kent. Ele veste a camisa para virar Clark Kent! Clark Kent é inseguro, covarde, frouxo e pombão!
Eu: Não captei.
Ela: Burro! Peter Parker veste a roupa e vira super-herói! Clark Kent veste a roupa e vira pombão! Não percebe?
Eu: É verdade. Interessante... Mas onde você quer chegar com essa conclusão?
Ela: As pessoas... Elas são assim. Umas vestem a roupa pra realçar o que não são, enquanto outras vestem pra esconder o que são. E descobrir isso é foda.
Eu: Hum. E por que você quer descobrir? Num tem coisa que é melhor deixar escondida, não?!
Ela: Não! Tenho que saber quem é quem. Vou testar com você e descobrir quem você é.
Eu: Beleza. Descubra aí e me avise...


sábado, 27 de novembro de 2010

Baker Street







Baker Street
(Gerry Rafferty)

Winding your way down on Baker Street
Light in your head and dead on your feet
Well another crazy day
You drink the night away
And forget about everything


This city desert makes she feel so cold
It's got so many people but it's got no soul
And it's taken you so long
To find out you were wrong
When you thought it held everything


Used to think that it was so easy
Used to say that it was so easy
But you're trying, you're trying now
Another year and then you'd be happy
Just one more year and then you'll be happy
But you're crying, you're crying now


Way down the street there's a light in his place
He opens the door, he's got that look on his face
And he asked where you've been
You tell him who you've seen
And you talk about anything


He's got this dream about buying some land
He's gonna give up the booze and the one night stands
And then he'll settle down
In this quiet little town
And forget about everything


But you know he'll always keep moving
You know, he's never gonna stop moving
Cause he's rolling, he's the rolling stone
When you wake up, it's a new morning
The sun is shining, it's a new morning
When you're going, you're going home








Post Scriptum
1: Quem não escutar pode se intrigar de mim.

Post Scriptum 2: Obrigaaaado, Lisa.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Como ser um mau-exemplo

Semana passada me convidaram para dar uma palestra e falar sobre mentira. Comecei logo desmistificando essa coisa toda que rola em torno da mentira, que mentira é coisa ruim, que vai levar você pro inferno conforme prega a igreja. Aí aproveitei que tinha falado essa palavra, igreja, usei-a como exemplo e, assim sendo, bastou dizer duas outras palavras para estampar meu ponto-de-vista: dinheiro e criancinhas. O riso cínico da platéia mostrou que eles tinham entendido a mensagem.

Daí eu prossegui dizendo que mentira não é uma coisa de toda má. Mentir é como contar uma boa história... Você vai falando as coisas, no começo meio que desordenadamente, por vezes mesclando com fatos verídicos e, no fim, tem uma historinha semi-verdadeira e semi-cara-de-pau. Importantíssimo é que se acredite na mentira que você está contando, afinal, se você que é o criador não acreditar na sua criação, quem o fará? Não menos importante também é ter boa memória e atenção aos detalhes, uma vez que existe muita gente que gosta de pegar os outros no "contrapé".

Outra coisa que gerava muita confusão era a diferença entre mentir e omitir. Omissão é quando a mentira - ou verdade - não vale a pena ser contada. Aquele ocorrido que é posto debaixo do pano e deixado para que as traças deflorem com o passar do tempo. Já mentir é mentir. São duas coisas diferentes, diametricamente opostas e que não se relacionam necessariamente. Nessa hora um garoto da platéia que beirava os vinte e poucos anos fez um apontamento muito lúdico... Ele disse: omitir, então, é quando você trai a namorada e não diz e mentir é quando você diz negando, é isso? Eu não lembro direito o que respondi, até mesmo porque a garota logo ao lado do rapaz começou a ficar desconfortável repentinamente, mas achei o pensamento dele um tanto sagaz. Por cautela, acabei sugerindo que, se fosse uma situação de aperto grande, omitisse e visse no que dava. Afinal de contas, nem toda granada sem pino está fadada à explosão.

Depois de muitos aplausos e muita ovação, finalizei minha palestra dizendo que aquilo tudo não passava de uma grande mentira, mas parece que ninguém acreditou.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Taqui-

A pressa é mesmo algo que nos consome.

Hoje acordei atrasado. O alarme gritava "já são sete horas!" com quarenta e cinco minutos de atraso. Levantei - tentei, na verdade, pois a cama me abraçava como uma amante na manhã seguinte - pisando em alguns dos brinquedos de Jack, meu fiel cão. Chamei por Mara, minha namorada, mas ela não respondeu. Certamente, ela não tinha perdido a hora. Fiz-me pronto num átimo. Jaleco, gravata, sapato e aquele perfumezinho barato, porém simpático em menos de nove minutos... Um recorde! Peguei as chaves do meu Toyota e pisei fundo com os dois pés no acelerador. Cheguei à casa do meu irmão para pegar meu sobrinho, Vinícius, e deixá-lo na aula de piano. A pressa fez com que ele entrasse no carro ainda comendo o pão com requeijão, coitado.

Mas foi quando ele desceu na escola que eu percebi que não tinha um cachorro chamado Jack, nem uma namorada chamada Mara, nem sequer um carro. Sobrinho, então...

Você não vale a pena, Pressa.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tapa de luva

Estavam todos contra mim. Parecia que só eu fazia coisas erradas. Parecia que somente eu gostava de fazê-las. Na boca dos outros, eu era um canalha, um calhorda, cafajeste mesmo. Porque tinha que viver à sombra do que todo mundo dizia ser "certo", "nobre" e "virtuoso". Mas eu insistia que certos erros, como aquele, precisavam ser cometidos uma vez. Tamanha era a satisfação que, para alguns, inclusive, uma vez não era simplesmente suficiente. Findou que acabei gostando deles e, ao que parecia, eles de mim.

Daí todo mundo pegou sua indignação e seu punhado de hipocrisia, colocou no bolso e foi embora. Todo mundo menos aquele velhinho que limpava a calçada. Ele me olhava com tanta dificuldade por entre as rugas que o tempo lhe trouxera que por um instante achei que aquela austeridade fosse de propósito. E era só o que me faltava: escutar de um velhote que eu não devia ter feito aquilo...

- Vai começar a me julgar também, velho? - perguntei.

- Não mesmo. Julgar é coisa de gente velha e sábia. E para sermos velhos e sábios temos antes que ser jovens e estúpidos.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

É culpa da Frida

Ah, as histórias de amor...


Joel era um típico garoto de vinte e poucos anos. De família não tão rica e nem tão pobre assim, Joel sempre foi esforçado no que fazia. No colégio católico no qual estudou durante todo o segundo grau, não se matava para tirar sempre nota dez, muito embora quase nunca tirasse seis ou sete. Fez amigos, alguns poucos para a vida toda, terminou o colégio, entrou na faculdade... Como se pode ver, essa parte da sua vida não distoava da dos outros garotos da sua idade. Além disso, Joel era uma pessoa muito empática e comunicativa, o que lhe dava a vantagem de perambular por diferentes grupos de amigos sem sofrer qualquer rejeição. Ademais, gostava de praticar natação, jogar xadrez e beber suco de graviola.

Laís também era uma garota típica de vinte e poucos anos. Minto! De típica Laís não tinha quase nada. A começar pela beleza. De tão bela, Laís chegava a ser uma afronta. Afronta à feiúra, afronta à inveja, afronta até mesmo a probabilidade em si porque era difícil dizer de quantos em quantos bilhões de anos um ser como esse estava apto a andar pela Terra. Além disso, não bastasse ser descomedidamente linda, Laís era a simpatia em pessoa. Seu sorriso, dizia-se, derretia geleiras. Mas isso era o que diziam e eu aposto que foi algum garoto de vinte e poucos anos que espalhou a falácia. De lado com as atipias, ela também era uma aluna entre o oito e o nove, de amigos verdadeiros e que, coincidência ou não, estudou num colégio católico, entrou na faculdade e et cetera. Laís e Joel estudavam no mesmo colégio e se conheceram há oito anos atrás. E foi aí que começou tudo. Ou nada, sei lá.

Joel e Laís se conheceram por intermédio de uma amiga da irmã de Laís, Frida - que, na verdade, chama-se Valéria. Frida estudava na mesma sala que Joel e Alfredo, seu melhor amigo, e que Júlia, irmã de Laís. Complicou um pouco, mas foi só pra dizer que, apesar de estudar com Júlia, que era irmã de Laís, Joel precisou da ajuda de Frida para conhecê-la. Além do mais, histórias de amor não são simples, com variáveis únicas e uma incógnita para achar. Isso ficava mais a cargo da matemática, conforme Joel, Alfredo, Frida e Júlia puderam atestar naquele final de manhã de quarta-feira, o mesmo final de manhã no qual Joel descobriu que Alfredo tinha uma queda por Laís.

Mas Laís sequer sabia quem era Alfredo ou Joel. Foi aí que Frida entrou, antecipando o acaso e colocando em posição estratégica o interessado e o objeto de interesse. Alfredo e Laís não combinavam tanto, é verdade, e Laís sabia disso. Sabia, inclusive, antes mesmo que Alfredo pudesse desconfiar. Por isso, o approach necessário para juntar os dois era uma tarefa hercúlea. Aí Alfredo, que não era nem besta nem desenrolado, pediu ajuda ao seu fiel camarada, Joel, que tinha a fama de desatravancar situações desse tipo com extrema facilidade e maestria. E Joel foi lá ter com Laís. Mas aí parece que a coisa começou a desandar de vez pra Alfredo. Laís e Joel pareciam se dar muito bem, bem até demais. Uma química boa, conversa doce, aquela coisa toda. E Laís já tinha percebido no ato, antes mesmo que Joel pudesse sequer desconfiar. E ele não desconfiou mesmo, uma vez que continuou a tentar ganhar a garota para o amigo. Mas dessa vez até Alfredo já tinha notado.

E foi aquele bafafá, né?! Alfredo chamou Joel pra conversa, colocou-o contra a parede, colocou o dedo no peito dele e quis saber o que ele andava fazendo. Joel colocou o dedo no peito de Alfredo e disse que ele estava - e depois daquele dedo no peito não sabia se estaria mais - tentando ganhar a garota para o amigo, ainda que sem muito sucesso, mas estava. Alfredo disse que não parecia, uma vez que Laís só perguntava por Joel, queria fazer natação e, agora, só pedia suco de graviola durante o intervalo. Aí Joel virou para Alfredo e disse que isso era coisa da cabeça dele, que num tinha nada a ver e que... "Sério?!", perguntou. Pronto. Agora Joel desconfiou. E não podia deixar passar o fato de que fazia pleno sentido. Mas ele garantiu - da boca pra fora, lógico - que não sentia nada por ela, que ela era intocável e que, por causa da crise, só tinha graviola na cantina do colégio. Aí Alfredo colocou a cabeça no capacete, subiu na moto e foi pra casa. Joel, cuja cabeça há muito já estava nas nuvens, desejou um suco de graviola naquele momento. Mas a crise tava foda: até a graviola tinha acabado.

Nas semanas que se seguiram Joel tentou, sem sucesso algum, mitigar o clima de novela mexicana que se instalara. Não podia ignorar os sentimentos de Alfredo, mas também não podia abrir mão da conversa-sempre-agradável com Laís. Laís, ao que parecia, ficava sempre eufórica em parte por causa do suco de graviola, que era realmente doce, e em parte pela capacidade de Joel de fazê-la rir. Alfredo, muito mais carrancudo e introspectivo, por vezes se via como mero espectador daquela conversinha, até julgar que aquilo bastava. Então ele mesmo foi lá, colocou Laís na parede e quando ia colocar o dedo no peito dela - não no peito em si, mas ali por perto do ombro e tal - ouviu dela o que ele devia ter se dado conta desde o dia que Frida os apresentou. Alfredo saiu com o coração na cueca, lógico, deixando o terreno aparentemente livre. Aparentemente. Embora Joel quisesse dar o passo adiante, Alfredo era seu amigo e a amizade não deixava que seus sentimentos fossem ignorados. E por conta disso o tempo passou, Laís foi cada vez mais pro seu lado, envolveu-se com outros garotos de vinte e poucos anos e et cetera. Joel idem. E assim foi sendo dia após dia.

(...)

Mas aí o acaso estuprou a probabilidade de novo. Muito tempo depois - oito anos, para ser mais preciso - sem nem sequer pensar no ocorrido, Joel, em uma saída das mais despretensiosas, encontra Laís. E, pasmem, ela estava ainda mais bela. Cabelos negros ali por L1-L2, sorriso típico. Laís era, à "primeira" vista, a mesma, já Joel... Não tardou para ele perceber que ele tinha virado um babaca na frente dela. Não sabia o que dizer, o que pensar. Nem conseguia direito fixar o olhar sem ficar, sei lá, com cara de vaso. Aperreio grande, grande mesmo. Cadê a lábia, Joel?

E a coisa foi tão grave, mas tão grave que Joel me procurou no outro dia. Vinha com aquele jeito sem-jeito de perguntar, mas, depois da pressão, mandei ele desembuchar. "Cara, o que eu faço?", ele perguntou. E agora, o que que ele faz? Alguém diga aí porque ele tá aqui do meu lado esperando uma resposta. E ainda por cima com aquela cara de babaca.


domingo, 31 de outubro de 2010

Papo-cabeça

Conversas da vida real.


Eu: Conheci uma menina essa semana... Izabel, o nome dela.
Ele: E aí? Bonita? Gostosa?
Eu: Daria um sete pela beleza. Oito pela inteligência. Na verdade, oito pelo conjunto da obra.
Ele: Ou seja, era feia.
Eu: Dava pra andar de mãos dadas no mercado do Alecrim sem problemas, eu acho...
Ele: hAUHuahUAUhauhUAHUhauHAUHuahuHAUhauHUA.
Eu: Teve essa vez que a gente tava conversando na pracinha e ela falou sobre os planos dela para o futuro, mas eu fiquei meio confuso.
Ele: ?!
Eu: Ela queria ser muita coisa. Basicamente, ela queria ser tudo aquilo que ela via os outros sendo e que, com os outros, tinha dado certo.
Ele: Como assim?
Eu: Ela tinha vontade de ser algo só porque alguém era e se dava bem nisso. Ela não alimentava vontades próprias, mas, sim, queria seguir os passos já dados por outra pessoa. Literalmente.
Ele: ...
Eu: Ela queria viver a vida de outra pessoa. Trilhar os passos dela, fazer exatamente o que ela fez. Não havia muita originalidade nos sonhos dela. Na verdade, ela queria viver os sonhos dos outros.
Ele: Deixa a menina em paz, rapaz.
Eu: Eu deixei, mas fiquei pensando com meus botões depois... O que sonha de noite uma pessoa que não tem sonho algum?








Post Scriptum: Esse negócio de "eu" e "ele" ficou extremamente gay, né?!


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E a educação, cadê?

Eu estou num mundo repleto de pessoas mal-educadas. Todo dia vejo um exemplo atrás do outro de como não se deve tratar um ser humano, um animal e até mesmo um objeto inanimado - que, por sorte, não possui senso crítico e evita, assim, uma vã indignação. E nem faça essa cara de quem não sabe do que se trata porque você sabe. Você, inclusive, assim como eu, tem lá seus momentos de pessoa repugnante. Mas eu não vim aqui pra promover o auto-denegrimento, portanto vou falar dos outros e, quem sabe assim, faço um exame de consciência e reflito sobre mim mesmo.

A questão é que, à vista, parece-me que as pessoas nascem fadadas à mal-educação. Rosseau dizia que o homem nasce bom e a realidade o corrompe, mas eu duvido. Até as criancinhas de hoje, proclamadas como o futuro do país, dão provas de que esse futuro vai feder. Provo isso com um simples exemplo: quando eu tinha meus oito ou nove anos e andava de ônibus com minha mãe, ela sempre mandava eu dar o lugar no ônibus para a velhinha que acabara de subir. Sem questionar muito - porque, àquela época, tudo que mamãe dizia e fazia parecia ser certo e coerente -, eu dava meu lugar à velhinha, que sempre agradecia passando a mão nos meus cabelos loiros e dizendo que eu já era um rapazinho lindo. As crianças de hoje em dia não sabem o que é isso. As crianças de hoje em dia choram em frente à vitrine porque os pais não querem dar aquele brinquedo caríssimo que brilha através do vidro. Daí elas esperneiam, fazem algazarra, jogam coisas a esmo, gritam, mordem e fazem todo aquele escarcéu só porque elas querem o brinquedo. Grande parte das vezes fica por isso mesmo. Quando os pais são sérios sempre rola uma violênciazinha, que, nesses casos, ao meu ver, é imprescindível.

Mas não posso simplesmente colocar a culpa nas coitadas das crianças, pois, afinal, tem sempre um adulto por trás. E um adulto muito mal-educado, diga-se de passagem. Outro dia, uma mulher invadiu o pronto-socorro do Gilseda Trigueiro porque tinham furado a frente dela. De fato, tinham mesmo. O motivo foi porque uma senhora passou muito mal na fila de espera para ser atendida e precisou de atendimento preferencial. Mas a mulher estava indignada porque estava esperando alí fazia "duas horas" com seu filho (que havia sido mordido por um gato na mão) e não tinha nada a ver com os problemas da outra senhora que furou sua vez. Veja bem, ela disse exatamente isso: eu não tenho nada a ver com o fato de ela ter passado mal. Bem, sorte a nossa que também não tínhamos nada a ver com o fato do filho dela ter colocado a mão na boca de um gato. Depois de escutar o que não queria, ela foi sentar-se na cadeira e esperar sua vez bufando.

E nem precisa ir tão longe pra ver essas coisas. O trânsito é hoje o ambiente onde se vê o maior número de pessoas sem educação. E eu não falo daqueles que não sabem ou não têm experiência. Eu falo de todos os filhos da puta que nunca, absolutamente nunca dão a sua vez, dos que querem fazer fila tripla, dos que não param na faixa de pedestre, dos que saem furando a fila, dos que fazem ultrapassagem pela direita e de todos os filhos da puta que dirigem moto, táxi ou ônibus. Quantos não morrem por imprudência alheia. E quando eu digo "imprudência" leia "falta de educação". E por aí afora vai... Ninguém dá mais o lugar no ônibus, ninguém ajuda mais as velhinhas a atravessarem a rua, ninguém joga o lixo no lixo. A coisa tá tão séria que ninguém dá mais "bom-dia" ou sequer diz "obrigado". "Por favor", então, é coisa rara. Parece ser muito bonito a mal-educação. Daí todo mundo o é e ninguém reclama. E assim a gente vai vivendo, e se acostumando, e achando normal, e nem ligando. Nem ligando até o dia que você perceber o que há a sua volta. Aí você vai ligar, ah, se vai.

Vou terminar agradecendo à minha mãe porque a pouca educação que tenho me foi dada por ela. Era ela que me batia quando eu dava "showzinho" na rua, que dizia "não e pronto" e que sempre me lembrava do "como é que se diz?". Muito obrigado, mãe.


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Wall quote










Post Scriptum: Ando meio sem tempo... Então tem que ser "curto e grosso".


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Inception

To be a refugee.
To seek silence.
To seek peace.

To flee from what hurts you the most.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O colo de vovô

Quando eu era pequeno queria ser astronauta. Obviamente que quase todo menino já teve essa vontade um dia. Lembro-me nitidamente do meu avô colocando-me em seu colo, no terraço da casa de vovó, e explicando como ele fazia para se orientar pelas estrelas nos seus idos tempos de marinheiro. Eu olhava para aqueles pontinhos brilhantes no céu tentando realmente entender o que vovô queria dizer com "distante", porque pra mim, distante era a quintandazinha que ele me levava pra comprar picolé, localizada no dobrar da primeira esquina rua abaixo. E, de certo modo, eu cresci com esse fascínio pela infinitude do universo e pela longinqüidade das estrelas, e na minha cabeça a única forma de pegar uma estrela na mão - porque eu tinha certeza que elas eram pontinhos mesmo - era sendo um astronauta. Confesso sem vergonha ou arrependimento que ainda sonho com isso de vez em quando hoje em dia.

Aí depois eu quis ser mergulhador. Acontece que eu também morria de medo de tubarão. Uma vez eu vi um filme na televisão que o tubarão comia um homem ao meio e comecei a chorar. Meu irmão, muito mais novo que eu, assistia como se fosse mais um desenho animado. Aí um certo dia, no sofá da casa de vovó, vovô sentou do meu lado com um livro que era cheio de fotos de peixes. Lá pro meio desse livro, tinha uma foto aterradora de um tubarão, como se ele estivesse vindo em direção à câmera pronto para comer o fotógrafo. Aquela boca enorme e cheia de dentes me fazia tremer só de olhar. Quando eu já ia passando a página, no afã de me livrar daquela visão e evitar que ela me rendesse várias noites de pesadelo, vovô segurou minha mão e me colocou no colo de novo. Daí me mostrou o seu dedo indicador e começou a passar por sobre a página, em cima da boca do tubarão. "Não tem porque ter medo, vê? Ele não pode fazer nada com você...", ele disse, e, com meu dedo, repetiu o gesto. Confesso que, com vovô alí do lado, o tubarão parecia um peixinho de aquário. Demorou um tanto considerável até que eu tivesse coragem o suficiente para passar o dedo sozinho.

Nunca mais tive vontade de ser algo assim. O tempo destinado à medicina e ao cuidado com o próximo em muito me consome e, agora, em muito me satisfaz também. Mas nós sempre temos que ter um plano B, ?! Nem que seja pra sonhar. Porque um dia vovô vai nos tirar do colo e nos colocar de pé, pra que a gente possa olhar as estrelas por si sós e, quem sabe, dominar um tubarão por dia.








Post Scriptum 1: Tanto o livro do tubarão como o das estrelas são meus agora. Servem para me mostrar, por vezes, que nada é tão distante ou tão amedrontador quanto aparenta.

Post Scriptum 2: Uma nostalgia eterna...


domingo, 5 de setembro de 2010

Sobre caminhos - LoTR

Nesse momento, Elrond saiu com Gandalf, e chamou a Comitiva até ele.

- Esta é minha última palavra - disse ele em voz baixa - O Portador do Anel está partindo na Demanda da Montanha da Perdição. Apenas sobre ele recaem exigências: de não se desfazer do anel, nem entregá-lo a qualquer servidor do inimigo, nem sequer deixar que qualquer pessoa o toque, com a exceção de membros da Comitiva e do Conselho, e mesmo assim em caso de extrema necessidade. Os outros partem com ele como companheiros livres, para ajudá-lo no caminho. A vocês é permitido permanecer em algum ponto, ou voltar, ou desviar por outros caminhos, como o destino permitir. Quanto mais avançarem, mais díficil será recuar; apesar disso não lhes é impingido qualquer juramento ou compromisso de continuar além do que estiverem dispostos. Pois vocês não conhecem a força dos próprios corações, e não podem prever o que cada um vai encontrar na estrada.

- Desonesto é aquele que diz adeus quando a estrada escurece - disse Gimli.
- Talvez - disse Elrond -, mas não jure que caminhará no escuro aquele que ainda não viu o cair da noite.
- Ainda assim, o juramento pode fortalecer o coração que treme - disse Gimli.
- Ou destruí-lo.








Post Scriptum: Melhor livro de todos os tempos. Devia ser paradidático obrigatório em todas as escolas de ensino fundamental.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Wet poem



Everybody wants happiness
Nobody
wants pain
But you can't have a rainbow
Without a little rain


sábado, 14 de agosto de 2010

Tangencialidade

Liara estava grávida.

O pai da criança, que, no momento, não era necessariamente o cônjuge de Liara, chamava-se Válter. Válter era um homem de meia idade, meia estatura e peso médio dentro dos padrões medianos para pessoas de sua idade e estatura, que trabalhava no ramo da construção civil, mais especificamente no ramo das roldanas, mais especificamente ainda no ramo dos lubrificantes que se usavam nas roldanas usadas na construção civil. Válter tinha a função básica de fiscalizar se a consistência do lubrificante estava adequada para que o mesmo operasse como tal, ou seja, se o lubrificante parecia a agia mesmo como um lubrificante. Por isso, não incomum, chegava em casa quase todo dia com as mãos sujas de graxa, motivo pelo qual Liara, àquela época, aborrecia-se com freqüência. Eram tubos e tubos de detergente toda semana, sem falar nas toalhas brancas que se tornavam encardidas somente para que Válter tivesse suas mãos limpas de novo. Fazia isso porque sabia, logicamente, que a substância anfifílica contida no detergente - metade polar, metade apolar - seria capaz de, ligando-se à graxa - notadamente apolar -, ser carreada das suas mãos pela água - substância mais totalmente cem por cento polar da natureza -, e, com isso, se livrar de uma vez por todas da graxa-de-todo-dia. O que ele não sabia era que, com tanto detergente indo ralo abaixo, a caixa de godura rapidamente tornara-se inapta a exercer adequadamente sua função de caixa de gordura. Dentro em pouco, baratas e mais baratas, advindas da caixa de gordura que, a uma altura dessa, estava completamente cheia de pedras de sabão (importante lembrar aqui que o nome "caixa de gordura" faz referência ao fato de que a gordura que desce pelo ralo, teoricamente, juntando-se com o detergente ou sabão da lavagem, precipitará numa pedra e ficará contida no retináculo destinado a esse fim, ou seja, a caixa de gordura, motivo pelo qual não se deve supor que estas pedras são de gordura, mas sim, de sabão), começavam a sair ralo afora, tomando conta de toda a cozinha, para nojo, desgosto e, principalmente, raiva de Liara. Com o tempo e a reincidência, Liara aprendeu a não só não ter medo das baratas, como a persegui-las e matá-las peremptoriamente. As baratas, dotadas de pêlos (com acento pra não confundir com a preposição) sensoriais no ápice de suas antenas, prevendo o perigo iminente e eminente, tentavam por todas as vias salvar suas já breves vidas, quase sempre com relativo insucesso, uma vez que Liara era uma caçadora voraz e destemida. Por conta disso, o chão da cozinha havia se tornado um mosaico de manchas amarelo-marrom-esverdeadas contra um fundo branco, resultado das constantes mortes por esmagamento às quais esses pitorescos insetos estavam submetidos, levando a crer que o sangue das baratas seria amarelo-marrom-esverdeado. Ledo engano. A linfa que circula no corpo desse insetos - e que tem o mesmo papel que o sangue nos mamíferos - é incolor. O que, na verdade, dá aquela coloração amarelo-marrom-esverdeada à barata pós-esmagamento é a maceração de uma estrutura chamada corpo de gordura, localizada no abdome, que tem a função óbvia de armazenar lipídios de reserva energética, lembrando vagamente a caixa de gordura mencionada anteriormente. Mas foi Liara que acabou depletando sua reserva de energia e paciência com isso tudo. O estresse diário acabou por incorrer em picos hipertensivos, agravando a sua pré-eclâmpsia, morbidade obstétrica que pode por em risco a vitalidade fetal e materna. Com isso, sentindo dores abdmoniais, tendo vômitos incoercíveis e se queixando de escotomas visuais, Liara foi ao consultório médico essa manhã para avaliação de urgência. Ah, é... o médico.

Pois pronto! Liara estava grávida e, ainda deitada na mesa de exame, recebeu a notícia de que seu filho ia nascer. A bolsa havia rompido no auge da trigésima oitava semana de uma gravidez cheia de lubrificantes, detergentes, caixas de gordura e baratas. Muitas baratas.








A tangencialidade é um tipo de distúrbio de associação em que o pensamento e a fala divergem ou se desviam do tópico do momento, de modo que parecem desconexos ou irrelevantes; se fre­qüentemente repetida (e, em especial, se o locutor não volta espontaneamente ao tópico), a tangencialidade é denominada fala difusa, e o seu resultado final é a destruição do valor da fala como meio efetivo de comunicação com os outros.


Post Scriptum 1: O nome desse post deveria ter sido Discovery Channel.

Post Scriptum 2: Por pouco não rolou uma fala difusa aí...


sábado, 7 de agosto de 2010

Colhendo o que se planta

"A gente colhe o que a gente planta". Vai dizer que você nunca escutou isso da sua mãe? Toda vez que escutava a minha dizendo sempre me imaginava um jardineiro, colhendo flores vermelhas à beira de um jardim qualquer. Ah, a inocência das crianças. Mas aí, a medida que o tempo foi passando, essa frase foi começando a fazer o sentido que minha mãe queria que se fizesse desde o início, influindo diretamente no meu modo de agir. E, creio, não foi assim só comigo. É algo deveras difundido que, tal qual o jardineiro da minha imaginação, a gente realmente colhe o que a gente, um dia, plantou.

Isso, como muitas outras coisas da vida, é resultado de um encadeamento inato e natural dos acontecimentos ao nosso redor. Traduzindo: o que se faz retorna, de alguma forma, para quem o fez, qualquer que seja a ação feita. Nesse ponto, a vida foi bem justa, mostrando que o que nos acontece é fruto - e, por isso, colhido - direto das nossas atitudes. Demora-se um tempo pra se perceber, lógico, porque, por vezes, o ciclo depende de muitas variáveis para ser completo, precisando de acontecimentos interdependentes entre si. Daí o porquê de muitas pessoas não acreditarem realmente que o que elas fazem vai findar retornando para elas... falta-lhes atenção ou paciência para esperar, para deixar que a vida faça sua parte, e isso, como já dito, pode levar tempo. Assim como a flor que, depois de plantada, leva tempo para florescer.

E interessante é quando se percebe que as coisas estão acontecendo de volta conosco. Para as pessoas essencialmente boas, isso é muito nítido. De repente, a vida começa a dar certo, as coisas se encaixam, tudo parece maravilhoso. E, em grande parte das vezes, vem num momento que tudo parece dar errado, como se fosse obra do divino. Na verdade, no fundo, nada mais foi do que obra da própria pessoa, e ela, em euforia, não percebe que é o motivo da própria felicidade. E as boas pessoas, aquelas que perseveram na bondade desmedida, são grandes merecedoras das coisas boas que lhes retornam, uma vez que, muitas vezes, em sua imensa bondade, acabam passando por maus bocados em razão da pureza de suas ações. E não há quem não se alegre ao ver coisas boas acontecendo com boas pessoas. Para os não tão bondosos assim, a coisa funciona basicamente do mesmo jeito, mas com um plus. O que retorna, retorna com maior intensidade, em um pior momento e da pior forma que possa acontecer - é a tal da lei de Murphy. E de novo, lógico, isso é o resultado claro e previsível daquilo que se opera na sua mente e coração. Nesses casos, quando a pessoa ainda tem um pouco de sensatez e o dano não é permanente, há a possibilidade de se tirar grandes lições do ocorrido, inclusive podendo mudar o caráter com um breve exame de consciência. Portanto, de um jeito ou de outro, o que você faz é o ponto zero daquilo que lhe ocorrerá num futuro não tão longínqüo.

Por isso, se você é uma pessoa boa e acha que a vida só te passa a perna, não desanime. Sua hora vai chegar, mesmo que se derrame, no caminho, alguma lágrima ou gota de suor. Às vezes nos traímos fazendo coisas que nem são do nosso feitio por achar que a vida é injusta e que "bonzinho só se fode", mas basta dar tempo para que a natureza faça seu papel. Uma coisa leva a outra, que leva a outra, que leva a outra que, enfim, levará a você. Sempre. E também, se você tem malícia no coração, cuidado! Um dia, como também diz minha mãe, a casa cai. E cai daquele jeito: na pior hora e da pior forma, sempre visando o maior dano possível. Daí quando estiver tudo no chão e você olhar em volta vai encontrar apenas olhares dizendo "é, bem que eu avisei". Por isso, pensem várias vezes na hora que aquela velhinha pedir ajuda a você para atravessar a rua. Um dia, com toda certeza do universo, você estará rezando pra que apareça alguém pra atravessar a rua com você.








Post Scriptum 1: Eu escondi esse tempo todo, mas ela acabou descobrindo (droga!)... Juju, foi pra você! [hUAHuahuHAUhauHAUHuahuHAUha].

Post Scriptum 2: Coisa boas, coisas boas, coisas boas...


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre idas-e-vindas e reviravoltas

Addendum: Peço reiteradas desculpas para aqueles que, contrariando minhas próprias crenças, divertem-se com esse blog. A falta de atualizações corriqueiras jamais foi ou será por motivo de preguiça, astenia ou inapetência literária. A vida tá ficando cada vez mais corrida... mesmo. E, como todo bom mortal, não bastasse o corre-corre, ainda invento de me (re)apaixonar por certas coisas de vez em quando - sobre as quais falarei depois com grande afã -, o que me ocupa mais ainda. Mas, como já dizia o velho aforisma, a gente tarda, mas não falha.




E aproveitando que falaram em aforisma por aí, quem me conhece sabe que lhes gosto muito. Aforisma - que nada mais é do que uma frase curta que condensa um princípio filosófico ou moral, ou, em outras palavras, um dito popular -, pra mim, é que nem cantada de pedreiro: você escuta em todo canto, mas jamais se cansa do efeito que causa. A cantada é sempre impagável, principalmente se ela for daquelas bem bregas e o seu senso de humor, bem bobo. E não podemos esquecer jamais que, apesar de extremamente ridículas, elas são uma arma poderosa nas mãos de alguém com uma lábia perspicaz. Já os aforismas são bem menos engraçados, até mesmo porque não é esse seu objetivo principal. Sua notabilidade vem do fato de que seu sentido vai muito, mas muito além das palavras, dando uma margem infinita para reflexões e interpretações. Quem costuma conversar com os integrantes da "melhor idade" sabe o quanto eles gostam de sintetizar seus aprendizados em aforismas. Aforismas são, pois, um grande sinal de experiência e sabedoria.

E se tem um bom aforisma do qual vale a pena se lembrar nessa hora é aquele que diz que "a vida dá voltas". De cara, parando para pensar mais além, vê-se que dele sobrevêm alguns outros ditos. Se existe um dia da caça e outro do caçador, é porque a vida dá voltas. Se um dia se está por cima e noutro se está por baixo, só pode ser porque a vida dá voltas. Se águas passadas não movem os moinhos, tenha certeza: é a vida dando voltas. Se assim não fosse, ricos jamais ficariam pobres, atletas jamais morreriam de infarto e você, veja só, jamais sobreviveria à primeira desilusão amorosa. Mas, por sorte, a vida dá voltas, sim! Claro que cada volta vai numa velocidade diferente pra cada um e isso é algo que nós só nos damos conta com o tempo... tempo esse necessário para que a volta ocorra. Os velhinhos, a melhor idade de todas, são o que são porque já deram muitas voltas na vida, e em cada volta viram e viveram as mais variadas experiências.

E é engraçado esse negócio de voltas porque, às vezes, vivemos uma mesma situação pela segunda vez, mas ela comporta-se completamente diferente da primeira. Cremos em coisas hoje que serão nossas maiores descrenças amanhã. Ignoramos fatos e pessoas que serão da mais alta prioridade nas próximas voltas que virão. Vamos dando nossas voltas - e é inevitável, com essa ruma de voltas, não imaginar que estejamos numa montanha-russa - e mudando nosso comportamento a medida que elas ocorrem. Vamos moldando nosso caráter, pensamento e emoção baseados no que as voltas nos trazem, quer seja bom ou ruim. O julgamento, aliás, deve transcender o simples "bom ou ruim". O que vem é novo e tudo que é novo merece uma análise mais apurada.

E muita gente ainda não se acostumou com as voltas que a vida dá por puro conservadorismo, típico dos velhinhos. Mas os velhinhos podem, uma vez que já deram quase todas as voltas que podiam. Os não-velhinhos, não. Imaginamos que vamos ter as coisas e pessoas aqui para sempre. Imaginamos que nossos amigos sempre serão nossos vizinhos, que depois do terceiro horário vai tocar pro lanche, que as notas serão sempre boas, que o dinheiro nunca acaba, que a saúde é infinita, que a mentira não existe e que o mundo é feito de nuvens de algodão. Vamos achando que aquela pessoa, dentre as bilhões de pessoas que habitam o mundo, é a nossa escolhida, a única, pra todo o sempre. Imaginamos viver todos os nossos sonhos como se eles fossem ligados e desligados tal qual um interruptor de luz. Nos piores momentos cremos que a angústia será infinita e que viveremos no fundo do poço pro resto dos tempos. Mas a vida dá voltas, amigo velho. Quer você queira, quer não. Se quiser, melhor, porque as voltas virão naturalmente e serão mais aprazíveis. Se não quiser, paciência... a engrenagem não pára de rodar.

Lembre-se disso quando estiver muito feliz ou muito triste. Porque aquele momento só acontecerá de novo na próxima volta, isso se acontecer. Porque nenhuma dor, saudade, pensamento, emoção, dúvida, inquietação, tranqüilidade ou alegria será igual àquela da volta anterior. Experimente e veja. E sempre se pergunte o que a próxima volta trará de novo pra você.








Post Scriptum: Ê, vidão...


segunda-feira, 19 de julho de 2010

O meu Deus...

são os meus amigos.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Papo-cabeça

Conversas da vida real.


(...)
Ela: Acho que umas seis...?
Eu: Parei de contar em vinte.
Ela: Vinte?! Como assim vinte? Meu Deus...
Eu: É porque às vezes eram duas de uma vez.
Ela: Nossa!...
Eu: E teve também as coisas de sempre de todo carnaval de respeito... Churrasquinho, poucas horas de sono, muito barulho, pessoas, drogas, essas coisas. Alguns acidentes também, é verdade, mas nada que atrapalhasse aquele bom e velho clima de carnaval de sempre. Esse foi o melhor de todos os tempos.
Ela: Nem me fale. Parece que a cada ano que passa a coisa melhora... er... er...
Eu: Exponencialmente?
Ela: É, é, isso mesmo. Nunca fui muito boa com as palavras. Você que é o sabichão, com essa coisa de blog e tudo mais. Eu prefiro o twitter... muito mais econômico.
Eu: Twitter é coisa de preguiçoso. E sedentário. E futuros obesos. E oligofrênicos.
Ela: Oligo-quê? Nada disso! Todo mundo tem twitter. Todo mundo! Só os descolados têm twitters... Por que dizer algo em milhões de linhas quando você pode resumir tudo em cento-e-poucos caracteres?
Eu: Fico imaginando Machado de Assis escutando você dizer isso. Com certeza ele levantaria do túmulo e mataria você à machadadas...
Ela: Pois pode vir! Eu tenho uma bastão de beisebol profissional no quarto, de quando eu fui pra Disney. Cento e seis centímetros na cara dele!
Eu: Cento e seis?!
Ela: É. Vem escrito nele.
Eu: ...
Ela: Por que? Grande?
Eu: Hunrum.
Ela: Não sei. Não tenho muita noção... Não vejo coisas com muitos centímetros todos os dias...
Eu: hAUHuahUHAHuhauHAUhauhUAHUhauHAUhauHUAHuahuH...
Ela: Quê? O que f... Ah, seu... [porrada]
Eu: hAUHauhuHAUhauHAUahUAHUhauHAUHuhUAHuahUAHuahU...
Ela: hUAHUahuHAUhuahUAHUh...


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Boca-de-felicidade

Sentir-se bem. Estar na paz, de boa, curtindo a vibe, sussa, só no filé, sombra e aguá fresca. É o que resume bem aquela sensação esquisita que a gente sente quando o Brasil faz um gol. Ou quando ganha a Copa do Mundo. Ou quando a gente passa no vestibular. Ou quando a gente, no auge dos nossos nove anos, passa a tarde toda engelhando na piscina. Ou quando a gente ganha o primeiro videogame. Ou quando a gente acha cinqüenta contos na rua. Ou quando a gente fica bêbado. Em especial quando a gente fica bêbado. E é tudo, pois, culpa das endorfinas. Endorfinas são, na verdade, drogas endógenas produzidas com o único propósito de tornar ébrio tudo aquilo que é sóbrio. É como se a gente misturasse as coisas num tubo de ensaio só pra ver tudo explodindo: não há nada de interessante e feliz em se misturar coisas em um tubo de ensaio... até que tudo exploda. Eu até acho que os tudos de ensaio foram criados para isso e somente isso. É muito bacana, acreditem. Eu sei como é. Fazia direto nas aulas de bioquímica.

Aí eu, num momento inusitado, peguei-me pensando no seguinte: bicho, e se vendessem endorfinas como se vende cocaína? Já pensou? Felicidade alí, à beira da porta, ao módico custo de alguns trocados?








Post Scriptum 1: Mas quem precisa, né?!

Post Scriptum 2: Nunca tinha reparado como é feliz observar alguém comemorando um gol da seleção.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Saudade

Momento "Twitter" às 02h30 da madruga.



Acabo de chegar em casa e estou saudosista demais. Quero a volta imediata de dona Bárbara Felipe e do meu carnaval 2010. Todo o carnaval 2010. Por favor, voltem logo. A falta que vocês fazem é abissal.





Grato.








Post Scriptum: Falôu... Aula de pediatria já já.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sobre cair

Mamãe não vai deixar você cair.


Escutei minha mãe falando isso para o meu cachorro, Tobias, enquanto ela o segurava no parapeito da janela. Passei um ou dois minutos pensando a respeito. Cheguei à conclusão lógica que é isso que as mães fazem: nunca deixar a gente cair.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

About flying

Spread your wings and fly, he said.

And so she did. And after she had the sky for long enough - the very same sky wich she used to spend hours and hours gazing and getting amused when she was barely four feet tall -, she just realized that she wasn't flying because of the wings, for they were broken and, even so, she kept on flying around.

Now she knew that she flew because somehting else. Maybe something from the inside. Probably something from the inside. The wings led her to an epiphany... and he knew that. Wise. Most wise.

She's done now, so up and go. There are too many stars to colect. More than meets the eye.


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Não se arrependa

Não se demita. Não denigra. Não insulte a mãe. Não acabe. Não vá embora. Não gaste tudo. Não jogue as coisas para o alto ou pela janela. Não bata. Não desligue na cara. Não mentalize vingança. Não deseje o mal. Não mande para qualquer lugar, nem sequer mande tomar em qualquer canto. Não seja obsceno. Não mate. Não fuja. Não maltrate. Não humilhe. Não faça errado. Não mande se explodir. Não exploda. Não imploda. Não grite. Não sobrepuje. Não pise. Não diga que é tarde demais.

Jamais tome decisões quando estiver com raiva.


Não diga que ama. Não prometa o céu, nem as estrelas, nem o mar. Não prometa nada que seja da natureza. Não declare paixão. Não peça pra casar. Não queira namorar. Não fale. Não exploda. Não imploda. Não grite. Não grude. Não pulule. Não apelide fofamente. Não compre. Não venda. Não abrace. Não convide. Não aceite. Não se embasbaque. Não pareça idiota. Não se engane. Não enxergue só as flores ou o arco-íris. Não aceite. Não insista. Não prossiga. Não pegue na mão. Não jure. Não prometa. Não se meta. Não.

Jamais faça promessas quando estiver feliz.


terça-feira, 27 de abril de 2010

Graças a Deus é o car%$#@

É impressionante como as pessoas insistem em se apegar a Deus quando as coisas apertam, e somente quando elas apertam. Eu não sei como é o modus operandii Dele, nem sequer como Ele faz pra ser "oni" em tudo, mas a questão é que a galera aqui embaixo já nasce com essa certeza que Ele realmente tem a obrigação de desfazer todas as cagadas que insistimos em cometer. E eu não sei por Ele, mas me dá logo raiva ver gente fazer merda e dizendo que Deus vai ajudar, como se Ele tivesse obrigação.

E é por isso que eu não me conformo em ver uma mãe neurótica, negligente e ignorante, com um filho de treze anos que ainda cursa a terceira série do ensino fundamental, que tem uma leitura e uma escrita sofríveis e que mal sabe somar dois com dois, entrar em um ambulatório de pediatria com o simples propósito de pedir "exames de rotina" só pra não perder o benefício do maldito bolsa-família que ela recebe. Porque ela não sabe nem o que danado é "exame de rotina", nem muito menos se importa com o fato de ter um filho com uma deficiência cognitiva leve, ou seja, um retardado mental. Mas o dinheiro dessa porra dessa bolsa ela faz questão de ter no fim do mês, Deus sabe pra quê.

E o melhor: "Ele sempre foi um menino normal, dotô. Nunca deu problema pra nada, graças a Deus!"








Post Scriptum: A ética me impede de dizer, aqui, o que deu vontade na hora, embora eu saiba que a culpa não é toda dela.


sábado, 17 de abril de 2010

Sobre orgulho

O ano era 1992. Nicholas era um garoto franzino, de cabelo enrolado, feições quadradas e porte um pouco menos atlético do que aquele observado na maioria das crianças da sua idade e estatura. Eu, como sempre, já era maior que os demais, já falava alto, ria mais alto ainda e não tinha lá muitos amigos além dos imaginários. Começamos a ficar amigos meio que por causa de uma situação bem peculiar: Nicholas era o garotinho pequenininho e indefeso, com o qual os grandalhões se metiam a besta e tentavam roubar o lanche. Eu, o amigo grandão, da voz firme, que sempre vinha tirá-lo do apuro. Claro que, até onde eu lembre, ninguém nunca tentou roubar o lanche dele, mas há relatos verídicos de brigas nas quais eu me meti só pra safar a pele dele. Lógico que, em função do tempo, isso não é algo que tenha se arraigado na minha memória.

A questão é que começava ali a surgir um clima de camaradagem que perduraria por muito tempo. Tudo foi passando, a gente foi crescendo e os interesses e afinidades foram se mostrando compatíveis. Partilhávamos do mesmo gosto por desenhos animados, por filmes, histórias em quadrinhos, conversas e um sem-fim de coisas. Mas tudo começou quando a gente descobriu que gostava mesmo era de passar o fim de semana jogando o bom e velho videogame. Foram várias noites não-dormidas querendo zerar aquele RPG que, à época, sem qualquer conhecimento de inglês ou raciocínio lógico mais apurado, fazia-nos perder noites e noites mesmo. Divagávamos sobre todas as possibilidades e, juntos, aprendemos a contornar todos os problemas.

Foi então que chegou o ano de 1998. Era a sétima série e estávamos em meados do quarto bimestre - sim, eu ainda sou do tempos dos "bimestres". Na época, o videogame da moda era o Nintendo 64, e a Nicholas fora prometido um novinho em folha caso ele não ficasse em recuperação. Infelizmente - ou felizmente, não sei - Nicholas não conseguiu cumprir a sua parte do acordo, o que resultou em um natal sem Nintendo 64 e sem jogos e noites alucinadas em 1999. Com tamanha frustração, num raro momento de desabafo (creio que o único em todos esses anos), ele virou pra mim e disse: "A partir de hoje eu vou estudar pra caralho. Vou fazer faculdade de computação, ficar fuderoso e ir trabalhar na Nintendo do Japão". Logicamente que eu, já acostumado com toda aquela lamúria divagativa, nada dei por aquela afirmação. Entrou em meu ouvido do mesmo modo como entravam as explicações do professor de história: vagas e sem sentido. E assim foi.

O ano de 2002 chegara e chegara também o pré-vestibular. Até onde eu lembro, Nicholas nunca conseguiu passar de ano direto depois da quinta série. Logo, para muitos, ele chegava ao ano da decisão bastante desacreditado. Eu sequer perdi tempo pensando nisso. A gente tinha outros planos e outros jogos pra dar conta. A questão é que, ao fim do ano, com o resultado do vestibular vinha também a mais inusitada aprovação de todas: a dele. Passou logo no primeiro semestre, como se já mostrasse que não havia tempo a perder. Ainda no primeiro período da faculdade, Nicholas "inventa" de fazer curso de japonês no Cefet-RN. Lógico que, de novo, isso foi encarado como mais uma de suas várias enlouquecidas. Nem usuário de pó parecia viajar tanto. Mas ele, impávido, levou a decisão pra frente, sem sequer tomar conhecimento de qualquer reprovação.

E a faculdade passou. Nicholas se formou dentro do prazo mínimo, com algumas reprovações, é verdade, mas, enfim, tinha o canudinho na mão. O japonês ia de vento em popa e, agora, ele tinha um emprego, bastante rentável, diga-se de passagem. Já no primeiro ano surgiu uma oportunidade de bolsa para estudar, quem diria, no Japão. Era composta de uma prova em japonês e uma entrevista. Por critérios próprios da prova, Nicholas, embora tenha tirado uma boa nota na prova escrita, não foi escolhido para a única vaga que a bolsa oferecia. Frustração e mais um desabafo: "Doido (ele fala muito essa palavra, 'doido'), vou me inspirar agora nesse homem. Vou estudar até passar!". O homem ao qual ele se referia era eu, lembrando a peleja dos vestibulares. Preciso nem dizer o orgulho que foi escutar isso de uma pessoa que eu conhecia desde pequenininho, né?! E ele continuou naquele esquema trabalho-japonês-videogame no ano seguinte, submetendo-se às provas de novo e levando porrada em todas.

Ano passado, em 2009, depois de não conseguir algumas vezes, Nicholas parecia conformado. Aprendeu, inclusive, a tocar piano sozinho, em mais uma de suas empreitadas autodidatísticas. Levou apenas dois meses e já era quase um Beethoven. O piano foi uma boa porque preenchia seu tempo "ocioso" de maneira sublime. Não era raro eu ligar às duas da manhã e ele estar tocando alguma música que só ele gostava. E assim foi até que, subitamente, chega aos meus ouvidos que Nicholas ia embora. "Ia embora? Como pode?", indaguei. Quando fui saber da verdade, ele não só havia conseguido como já estava correndo atrás de todas as tranqueiras pra viagem, porque tinha menos de dois meses pra resolver tudo. E foi rápido mesmo. Em um dia ele tocava piano. No outro ele tinha que arranjar num-sei-quantos-reais pra poder comprar a passagem. Nesse exato momento, inevitavelmente veio á minha cabeça aquele momento lá na sétima série. E fui repassando cada dia de lá até aqui. E depois, do começo de tudo, lá em 1992, até aqui. Filme grande na cabeça. E agora ele ia embora.

Estamos em 2010 e vai fazer um mês que ele tá lá, comendo aquelas porcarias sem gosto que ele adora. Sempre manda notícia falando como estão as coisas no lado nipônico. Já começou a estudar robótica numa cidadezinha chamada Kanazawa, no Kanazawa Institute of Technology and Science. Vai ficar lá por dois anos fazendo exatamente aquilo que ele disse que faria quando tinha apenas treze, há doze anos atrás. E se eu bem conheço, vai voltar cheio de histórias. Cheinho.

Tá aqui a foto que não me deixa mentir. Repare que os anos passaram, mas o jeito franzino e quadrado continua o mesmo. Exatamente o mesmo.


Certeza que agora, três da madrugada aqui e três da tarde lá, ele deve estar sentindo falta do piano velho de guerra. Certeza.









Post Scriptum 1: Pessoa mais fuderosa que eu conheço. Disparadamente.

Post Scriptum 2
: Quem tiver interesse, ele tem um blog sobre falando sobre suas aventuras nipônicas. É só clicar aqui.

Post Scriptum 3: Abayo, yasashii hito. Abayo.


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Que seja

Ela não tem mais tempo pra estar falando agora. Está tomada por uma sensação estranha, mas que a faz se sentir muitíssimo bem. Mantinha o coração no lugar de sempre, praticando o total desapego emocional por tudo aquilo que, antes, julgava valer a pena. O mais engraçado de tudo era que, notara, quanto mais se desapegava das coisas, mais coisas surgiam apegando-se à ela. Mais, muito mais.

Ela tava do jeito que queria. "E se tiver que ser assim, que seja", dizia.






Que seja.


terça-feira, 23 de março de 2010

Bubble Gum

I'll follow you until you love me.
(...)
I won't stop 'til that boy is mine.



That's what she said.








Post Scriptum: Get the fuck out of my head, bitch!


sexta-feira, 19 de março de 2010

Tratado sobre a fidelidade

Parte 4 de milhões.





















































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sábado, 13 de março de 2010

Papo-cabeça

Conversas da vida real.


Ela: Amigo, você já pensou se, de repente, um dia, Deus ficasse puto com tudo e decidisse descer a porrada em todo mundo?
Eu: Como assim, ome?
Ela: Ó, raciocine comigo... Deus fez o homem à sua imagem e semelhança...
Eu: Hum.
Ela: ...ou seja, era pra o homem ser bom, não maltratar os animais, não ser ganancioso, não idolatrar o dinheiro, não atirar, esfaquear, esfolar, estuprar, escalpelar, desbaratar, contrabandear e, sequer, mentir. Mentir! Tem noção do tamanho do absurdo que é mentir?
Eu: Mas Judas negou Jesus. Ou seja, ele mentiu.
Ela: É, mas logo em seguida botaram pra fuder nele, ?!
Eu: Deus?
Ela: Não acho. Na verdade, acho que foram aqueles soldados romanos...
Eu: Hum.
Ela: Mas, como eu ia dizendo, imagine se Deus ficasse puto, desse armas a todos os anjos e mandasse eles aqui pra baixo pra meter bala em todo mundo... Ia ser uma chacina. Muito sangue, vísceras por todos os lado, essas coisas de filme gore...
Eu: hAUHuahUHAUhauHUAHuahUHAUhauHAUhuahUHA
Ela: Mas, mesmo assim, acho que existiram prioridades.
Eu: Tipo padres morrem por último?
Ela: É, mais ou menos... Tipo, logo no começo, assaltantes, estupradores, caluniadores, presidentes e donos de impérios capitalistas morreriam primeiro. Depois viriam os apresentadores de programas de domingo, os cantores de axé, as dançarinas do Pânico e os flanelinhas.
Eu: Flanelinhas?
Ela: Meu filho, você tem noção da verba que eles levantam às nossas custas? É como se uma parcela do IPVA fosse só pra eles... Absurdo. E se você não paga, eles arranham seu carro. Não que isso seja muito ruim no meu caso, que ando num Celta todo fudido, mas imagine no dia que eu tiver minha Land Rover...
Eu: Deus jamais deixará você ter uma Land Rover.
Ela: É... E Ele jamais deixaria o povo aqui passar fome também...
Eu: Olhe que, falando desse jeito, Ele pode colocar você nas primeiras prioridades...
Ela: Tenso. Imagino um serafim daquele, todo bombadão, de sunguinha, sarado, bronze de verão, carregando uma AK-47 e um cinto cheio de granadas, batendo à minha porta e dizendo "Hasta la vista, baby"...
Eu: É assim que você acha que vai chegar a sua hora?
Ela: Certeza... E olhando bem por essa óptica, nem seria uma forma tão ruim de morrer, ?! HUHAUhauHUAhuahUHAUhauHUA
Eu: HUHAUhauhauHUAHuahUHAUhauHAUhuaHAU
Ela: E Ele já começou a dar os avisos... terremoto num sei onde, tsunami, furacão... gente morrendo... pra Ele estar deixando gente morrer é porque não vem coisa boa por aí...
Eu: Verdade. E agora, o que a gente faz?
Ela: Sei lá. A gente pode ficar aqui embaixo dessa sombrinha, esperando que lá fora fique quente a ponto do mar ferver.
Eu: Peixe cozido?
Ela: Lógico. Vou até pedir mais umas cervejas...


domingo, 28 de fevereiro de 2010

Escolhas

Creio que não haja nada mais cliché e mais "auto-ajuda" do que discutir a respeito de escolhas. Não faltam filmes, textos e livros abordando o assunto, logo não posso esperar que daqui saiam grandes novidades. Mas a questão é que são as escolhas, sim, que ditam nosso caminho no curso da vida. Nesse momento, por exemplo, este que vos humildemente escreve poderia estar fazendo qualquer outra coisa, como estar na praia, em casa, no alto de uma montanha ou dentro de um carro fazendo uma viagem prolongada, e, mesmo estando na praia, poderia estar bebendo cerveja, ou tomando sol, olhando o horizonte, etc. E o que definiria tudo isso, em última instância, seriam as escolhas tomadas por mim. Claro que aqui eu falo a esmo, dando exemplos esporádicos que poderiam de fato ser verdade, mas que não excluiriam qualquer outra possibilidade de desfecho.

E quando falo de escolhas é impossível não lembrar de um exemplo que escutei uma vez e que faz uma bela alusão àquilo que pretendo evidenciar. Imagine uma pessoa andando por um caminho que, por hora, apenas leva a um destino, uma direção. Uma vez que não há outras possibilidades de percurso, a pessoa vai seguindo meio que em modo "automático". De repente, surge no caminho uma bifurcação: um caminho para a direita e outro para a esquerda. Nesse momento a pessoa pára e essa parada tem um objetivo primordial: escolher. E não se engane com a aparente simplicidade da situação; essa não é uma escolha tão trivial assim. Isso tudo porque a pessoa não decidirá apenas por onde ir, mas também por onde não ir. Parece confuso quando se tem de escolher entre duas variáveis, como o exemplo, mas aumentando o número de caminhos (para três ou quatro) percebemos que a escolha do "por onde não ir" assume maior relevância, já que a quantidade de caminhos a serem descartados é maior.

Assim sendo, é perceptível que toda escolha envolve, na verdade, outras escolhas intimamente ligadas à ela. Não há, portanto, uma escolha pura, ou seja, uma escolha que esteja totalmente dissociada de outras escolhas. Confuso de novo, né?! Tudo bem... vamos aos exemplos. Escolher ir à praia é escolher não ir, por exemplo, ao cinema, ao restaurante, ao parque, enfim. Escolher beber cerveja é escolher não beber vodka, uísque, cana, suco de laranja ou água mineral. Escolher namorar a galega é escolher não namorar a morena, a ruiva, a careca, etc. Enfim, escolher algo implica em não escolher uma série de outras coisas. No fundo, não escolhemos uma coisa em detrimento de outra apenas por escolher, mas, sim, porque a nossa escolha oferece mais benefícios que qualquer outra escolha naquela conjuntura. Escolher "isso" é não escolher "aquilo" e o que seria uma simples escolha acaba se desdobrando em duas ou três.

Com isso, fica fácil ver porque certas escolhas - na verdade, a maioria delas - nos tomam tanto tempo de julgamento e ponderação. Como o universo de possibilidades nunca se resume a duas ou três perspectivas, a decisão em torno de determinada escolha se torna pouco trivial. E a sua pouca trivialidade faz jus a relativa importância que o processo de escolha tem em nossas vidas. Afinal, sendo bem pragmático, nós somos nossas escolhas. Escolhemos o que vamos ser quando crescer, com quem vamos casar, se e quando vamos ter filhos, que carro comprar, para onde viajar e se devemos ou não escrever aquilo que nossa mente manda. As escolhas que fazemos, os caminhos que tomamos, tudo reflete diretamente no modo como vivemos, somos e pensamos. É como já dizia aquele clichê jurássico: "tudo é uma questão de escolha". Na verdade, tudo é um questão de escolhas. Escolhas.

E quando você for tomar sorvete da próxima vez, lembre-se: não é só de morango, chocolate ou flocos que se faz uma sorveteria.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Perdido?

Ela ainda andavam descrente desde a última intercorrência. Queria se despojar de tudo, inclusive dos valores de seu próprio caráter, pois nada mais valeria a pena. O mundo estava perdido e ela lavaria suas mãos. Dançaria conforme a música toca agora, mesmo sabendo que não iria estar sendo ela mesma.

Mas foi aí que, como que uma peripécia da vida, apareceu alguém que disse a ela que estar perdido também é ter um caminho, ainda que seja um caminho de maiores incertezas. Mas e daí? Não é a incerteza que apimenta as escolhas? Não é ela que nos faz suar e por vezes titubear antes de cada decisão? Pois que seja, então. Deixe a adrenalina fluir. Vá sem pensar, porque pensar demais pode estragar tudo.

"E tem mais...", disse-lhe. "Você não está assim por causa do mundo, não. Está assim porque tem medo de chegar ao fim tendo apenas um ou dois amores. Mas eu não me preocuparia com isso se fosse você. Pior do que ter poucos amores é não ter nenhum". E ela se perguntou se seria daquele jeito até o fim... se não era o mundo que realmente estava perdido.








Post Scriptum: Perdido ou não, eu tô volta. Desculpem o atraso.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

He Lives In You

Quebrando o protocolo, venho aqui fazer esta postagem extra-ordinária. Só porque essa é uma das músicas mais belas que eu escutei na vida. Chama-se He Lives In You, sendo um dos temas de "O Rei Leão" - daquela cena na qual Simba vê a imagem do seu pai numa nuvem, onde Mufasa manda que ele volte para ser rei. Já virou até espetáculo da Broadway. Massa.






He Lives In You


Ingonyama nengw' enamabala ("Aqui está um leão e um tigre") [2x]

Night
And the spirit of life
Calling
Mamela ("Escute")

And a voice just the fear of the child answers
Mamela ("Escute")
Ubukhosi bo khokho ("Trono dos antepassados")
We ndodana ye sizwe sonke ("Oh, filho da nação")

Wait
There's no mountain too great
Hear these words and have faith
Have faith

Hela hey mamela ("Ei, escute") [3x]
Hela

He lives in you
(
Hela hey mamela, hela)
He lives in me
(Hela hey mamela, hela)
He watches over
(Hela hey mamela, hela)
Everything we see
(Hela hey mamela, hela)
Into the water
(Hela hey mamela, hela)
Into the truth
(Hela hey mamela, hela)
In your reflection
He lives in you

He lives in you
(
Hela hey mamela, hela)
He lives in me
(Hela hey mamela, hela)
He watches over
(Hela hey mamela, hela)
Everything we see
(Hela hey mamela, hela)
Into the water
(Hela hey mamela, hela)
Into the truth
(Hela hey mamela, hela)
In your reflection
He lives in you [5x]



He lives in you
(
Hela hey mamela, hela)
He lives in me
(Hela hey mamela, hela)
He watches over
(Hela hey mamela, hela)
Everything we see
(Hela hey mamela, hela)
Into the water
(Hela hey mamela, hela)
Into the truth
(Hela hey mamela, hela)
In your reflection
He lives in you

He lives in you
(
Hela hey mamela, hela)
He lives in me
(Hela hey mamela, hela)
He watches over
(Hela hey mamela, hela)
Everything we see
(Hela hey mamela, hela)
Into the water
(Hela hey mamela, hela)
Into the truth
(Hela hey mamela, hela)
In your reflection
He lives in you


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...