quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Borboletas na barriga

Foi como se alguém tivesse me dado uma caixa cheia de letras, vírgulas e acentos e pedisse para eu fazer um poema.

É, foi exatamente assim. Mas não que eu seja um péssimo articulador da palavra, não. Sou dos melhores e reconheço - deixando a modéstia, que é verdadeira, de lado. Consigo falar no mesmo compasso com que penso e escrever no mesmo com que falo, e isso, sei, é para poucos. Coloco cada ponto-e-vírgula no seu devido lugar porque sei que não possuem a vaidade do ponto-final nem a efemeridade da vírgula. Meço minhas palavras com a precisão de um artesão lapidando uma
Pietà.

Mas isso é na teoria. Porque na hora que eu vi, o pensamento brigou com a fala e a expulsou da cognição. A língua tentou do jeito que pôde descer garganta abaixo como que numa tentativa de não se responsabilizar pela situação. As mãos, sempre desvairadas, inquietaram-se de pronto e esboçaram gestos que, ao meu julgo, não tinha qualquer nexo ou intencionalidade. A fronte embaçou e o coração batia por dentro do esterno com aquele ar de quem pergunta "que merda é essa, bicho?". Isso e eu ainda nem disse o que foi. Ou quem.

Mas só por causa da língua ainda acuada. Não o fosse, diria. Como o é, escrevi.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...