sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sexo selvagem

Já tô até vendo todo mundo olhando pro título e fazendo aquela cara de "Óóóóhhhhh!!!... Agora, sim, ele vai descambar à putaria...". Quem me conhece sabe o quanto eu prezo por discorrer sobre esse assunto inútil de vez em quando. Num boteco, numa sala de aula, no meio da rua, quem sabe... mas aqui não é lá um lugar muito apropriado para isso agora. Guardemos esse tema para uma provável discussão futura. Hoje eu quero falar sobre algo bem mais complicado, dinâmico, mutante e, por que não, incompreendido. Um assunto deveras controverso, mas que terei a audácia e petulância de arriscar fazer alguns apontamentos que julgo pertinentes. E sei desde já que estarei sujeito a apedrejamentos e esculachos gratuitos se não o fizer direitinho. Tá, mulheres! Hoje a pauta é sobre vocês.

E não pense que quando eu digo "sexo selvagem" estou me referindo àquelas atrizes que trabalham praticando o referido ato com notável vigor. Não, não, não. O "selvagem", na verdade, entra aqui mais como uma, digamos, qualidade. Deixem-me tentar explicar melhor. Por exemplo... estava certa vez assistindo a um dos melhores canais de todos os tempos - o Discovery Channel - quando percebi que o programa tratava sobre a vida daqueles felinos bacanas que vivem nas savanas africanas e têm aquelas jubas super maneiras. Daí, mostrava mamãe-leoa cuidando carinhosamente das suas mini-máquinas-de-matar quando, do nada, aparecia um leão pra lá de anabolizado que queria matar todos os leõezinhos da mamãe-leoa, coisa que o código penal chama de infanticídio. Profunda conhecedora dos seus direitos enquanto integrante da classe feminina, mamãe-leoa prostrou-se defronte ao aterrorizante marmanjo-leão e pôs-se a rosnar e mostrar seus belos caninos veementemente. Nessa hora eu "meio" que entendi, ainda que não de forma plena, o que é ser mãe. É engraçado como, apesar de ser apenas leões, a natureza é sempre a mesma em qualquer lugar. Qualquer mãe mataria ou se arriscaria impensadamente por um filho seu, e isso o Discovery Channel mostrou muito bem. Mulheres são selvagens, são leoas.

E tem também aquela velha passagem quase bíblica da menina que paquera o menino de outra menina. A menina que paquera, gaiata, faz-se de ingênua para, quem sabe, angariar o homem da próxima. A menina que tem seu homem paquerado, como boa defensora daquilo que lhe pertence, percebendo a pseudo-ingenuidade da outra, cerra os punhos e se prepara para a descarga de catecolaminas que se seguirá. Aí, nesse exato momento, eu lembro do Discovery de novo - ô canal massa, viu?! Os macaquinhos do gênero Callithrix, principalmente as fêmeas, são extremamente territorialistas. Eles vivem amontoados sobre árvores, dividindo os galhos entre si, cada fêmea com seu respectivo filhote. Agora imagine o que acontece quando uma fêmea "desavisada" invade o galho da sua vizinha... Isso mesmo: Monkey Mortal Kombat. Qualquer semelhança com as meninas lá de cima é mera coincidência, okey?! Como eu disse, mulheres são selvagens. Primatas, porém selvagens.

E, para chocar de vez toda a canalha masculina e fomentar furor entre as ultra-feministas ulfanistas desse mundo de meu Deus, vem a mulher moderna, mãe solteira, trabalhadora, bem-sucedida, que dá conta de casa, trabalho, filhos, pais, papagaio e tarará. Aquela que se reproduz quase que por partenogênese, aquela que troca pneu mais rápido que muito marmanjo, aquela que peita ladrão no meio da rua, aquela que não leva desaforo pra casa. Aquela. Ah, aquela... que mostra quem é que manda mesmo que, às vezes, não mande em nada. Tal qual a viúva-negra, que janta o próprio parceiro nos primeiros minutos pós-cópula, ela mostra quem é que manda. E mostra bem. Imagine só o que seria dos pobres namorados se, a cada ida ao motel, as namoradas sentissem uma fome desse naipe. Motel, eu não sei, mas de viúvas-negras o Discovery tá cheio. São uma selvageria só, essas mulheres.

E olhe que eu nem mencionei quando elas encarnam, por exemplo, o tubarão. O bom, velho e selvagem tubarão.








Post Scriptum: Eu voltei dessas férias co'a mulésta, foi não?!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Meu tempo

Ow yeah!!! We´re back on business, mate!!! \o/


E eu já volto dizendo que estamos vivendo em tempos mudados. Os dias não são mais tão normais, se é que existe algo assim. Cada dia que passa percebo o quanto "o meu tempo" foi diferente e não vai mais voltar nem a pau mesmo. E no meu tempo isso era algo improvável. Mas quem diria... a probabilidade sempre faz jus ao nome que carrega. Passei esses últimos dois meses observando por demais e isso, de certo modo, ainda vai me render muitos parágrafos por aqui... assim espero.

E, de cara, isso é algo que, no meu tempo, não era muito comum: observar. Todo mundo gostava mesmo é de falar pelos cotovelos até a boca secar, para, daí, beber água e recomeçar tudo de novo, alienadamente. Ninguém parava no meio do dia para olhar o céu, por exemplo. Ninguém parava pra olhar um beija-flor no meio da rua, coisa raríssima de se ver hoje em dia. Me diga, vá: quantos beija-flores você viu só essa semana? Esse ano? Beija-flores são poesias com asas. Contemple um qualquer dia e você vai achar que, naqueles poucos segundos de admiração, o tempo parou. Mas não! Melhor é ficar falando da vida alheia porque isso sempre dá mais ibope. Sentar uma tarde na praia e sentir o vento no rosto é coisa de gente cretina. Caminhar na chuva é coisa de pobre e encarar o horizonte, coisa de autista. Ninguém sabe mais ficar sozinho esses dias. Precisam viver feito maritacas, cracrejando o mais alto que puder pra chamar atenção. Pfu!

No meu tempo, as crianças matavam apenas aula e formigas com lentes convergentes. A segunda opção, inclusive, rendera-me grandes momentos de diversão e uma ou duas pontas de dedo queimadas. A primeira, por bem, reservara-me apenas a diversão. Hoje, as crianças matam até outras crianças, usam roupa de gente grande, consomem coisa de gente grande, falam feito gente grande. Onde estão os bonecos, as bolas, a amarelinha, o esconde-esconde, o bom e velho "tô no poço"? Onde? Cadê os gibis? Videogames? No meu tempo, no colégio, eu morria de medo dos "grandes". Semana passada, um garoto passou por mim lá na cantina do colégio onde estudei e exigiu que eu desse dinheiro pra ele comprar o lanche dele. Isso mesmo: exigiu. Foi quando, então, eu levantei da cadeira e ele viu com quem ele estava lidando realmente. Lá de baixo, ele quis fazer uma cara de durão, mas já foi logo dando passos para trás. É bom demais ser grande, mas é ruim ver que o tempo mudou assim.

No meu tempo, menininhas de treze anos trocavam fraldas apenas das suas respectivas bonecas, que, por sinal, eram de plástico semi-vagabundo e tinha cabelos e pestanas feitos de piaçava. Hoje, as bonecas estão bem mais sofisticadas. Choram de verdade, comem de verdade, dormem de verdade, crescem de verdade, e as menininhas de treze anos têm que dividir suas atividades entre as bonecas de mentira e aquelas de verdade. Já os menininhos de treze anos do meu tempo se preocupravam basicamente em ganhar toda e qualquer partida de futebol, de corrida de tampinha e de Street Fighter que houvesse. E sabiam, de cor, os nomes dos doze cavaleiros de ouro da saga das doze casas do Zodíaco. Hoje, entretanto, eles preferem pegar coisas sem pedir e colocar o nariz onde não devem, literalmente. Eles precisam de um super-herói, isso sim.

Enfim, no meu tempo felicidade era correr na chuva até pegar um resfriado e não ter nenhum arrependimento por isso. Era sujar a roupa todinha de lama e ainda ter coragem de ir comprar sorvete dentro do Shopping. Era passar por debaixo da catraca do ônibus, roubar o carro do pai, fazer coisa proibida escondido. Felicidade era uma coisa que se vendia praticamente em toda esquina e era tão barata quanto um pirulito. Engraçado de se viver assim é porque, depois de certo tempo, você se acostuma a ver coisa boa em tudo e a dar sorrisos gratuitos mais freqüentemente. E no meu tempo, isso era completamente possível. Completamente. Ah, tempo bom aquele, viu?! Tempo bom...








Post Scriptum: Final do ano passado, estava andando pelo calçadão quando passou um pai com seu filhinho sentado em seus ombros, o pai andando como se o garotinho não existisse, o garotinho olhando pro tempo como se não houvesse pai. E ele - o garotinho - sorria copiosamente.

Queria ter uma câmera fotográfica exatamente naquele momento.
[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...