terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tapa de luva

Estavam todos contra mim. Parecia que só eu fazia coisas erradas. Parecia que somente eu gostava de fazê-las. Na boca dos outros, eu era um canalha, um calhorda, cafajeste mesmo. Porque tinha que viver à sombra do que todo mundo dizia ser "certo", "nobre" e "virtuoso". Mas eu insistia que certos erros, como aquele, precisavam ser cometidos uma vez. Tamanha era a satisfação que, para alguns, inclusive, uma vez não era simplesmente suficiente. Findou que acabei gostando deles e, ao que parecia, eles de mim.

Daí todo mundo pegou sua indignação e seu punhado de hipocrisia, colocou no bolso e foi embora. Todo mundo menos aquele velhinho que limpava a calçada. Ele me olhava com tanta dificuldade por entre as rugas que o tempo lhe trouxera que por um instante achei que aquela austeridade fosse de propósito. E era só o que me faltava: escutar de um velhote que eu não devia ter feito aquilo...

- Vai começar a me julgar também, velho? - perguntei.

- Não mesmo. Julgar é coisa de gente velha e sábia. E para sermos velhos e sábios temos antes que ser jovens e estúpidos.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...