quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre idas-e-vindas e reviravoltas

Addendum: Peço reiteradas desculpas para aqueles que, contrariando minhas próprias crenças, divertem-se com esse blog. A falta de atualizações corriqueiras jamais foi ou será por motivo de preguiça, astenia ou inapetência literária. A vida tá ficando cada vez mais corrida... mesmo. E, como todo bom mortal, não bastasse o corre-corre, ainda invento de me (re)apaixonar por certas coisas de vez em quando - sobre as quais falarei depois com grande afã -, o que me ocupa mais ainda. Mas, como já dizia o velho aforisma, a gente tarda, mas não falha.




E aproveitando que falaram em aforisma por aí, quem me conhece sabe que lhes gosto muito. Aforisma - que nada mais é do que uma frase curta que condensa um princípio filosófico ou moral, ou, em outras palavras, um dito popular -, pra mim, é que nem cantada de pedreiro: você escuta em todo canto, mas jamais se cansa do efeito que causa. A cantada é sempre impagável, principalmente se ela for daquelas bem bregas e o seu senso de humor, bem bobo. E não podemos esquecer jamais que, apesar de extremamente ridículas, elas são uma arma poderosa nas mãos de alguém com uma lábia perspicaz. Já os aforismas são bem menos engraçados, até mesmo porque não é esse seu objetivo principal. Sua notabilidade vem do fato de que seu sentido vai muito, mas muito além das palavras, dando uma margem infinita para reflexões e interpretações. Quem costuma conversar com os integrantes da "melhor idade" sabe o quanto eles gostam de sintetizar seus aprendizados em aforismas. Aforismas são, pois, um grande sinal de experiência e sabedoria.

E se tem um bom aforisma do qual vale a pena se lembrar nessa hora é aquele que diz que "a vida dá voltas". De cara, parando para pensar mais além, vê-se que dele sobrevêm alguns outros ditos. Se existe um dia da caça e outro do caçador, é porque a vida dá voltas. Se um dia se está por cima e noutro se está por baixo, só pode ser porque a vida dá voltas. Se águas passadas não movem os moinhos, tenha certeza: é a vida dando voltas. Se assim não fosse, ricos jamais ficariam pobres, atletas jamais morreriam de infarto e você, veja só, jamais sobreviveria à primeira desilusão amorosa. Mas, por sorte, a vida dá voltas, sim! Claro que cada volta vai numa velocidade diferente pra cada um e isso é algo que nós só nos damos conta com o tempo... tempo esse necessário para que a volta ocorra. Os velhinhos, a melhor idade de todas, são o que são porque já deram muitas voltas na vida, e em cada volta viram e viveram as mais variadas experiências.

E é engraçado esse negócio de voltas porque, às vezes, vivemos uma mesma situação pela segunda vez, mas ela comporta-se completamente diferente da primeira. Cremos em coisas hoje que serão nossas maiores descrenças amanhã. Ignoramos fatos e pessoas que serão da mais alta prioridade nas próximas voltas que virão. Vamos dando nossas voltas - e é inevitável, com essa ruma de voltas, não imaginar que estejamos numa montanha-russa - e mudando nosso comportamento a medida que elas ocorrem. Vamos moldando nosso caráter, pensamento e emoção baseados no que as voltas nos trazem, quer seja bom ou ruim. O julgamento, aliás, deve transcender o simples "bom ou ruim". O que vem é novo e tudo que é novo merece uma análise mais apurada.

E muita gente ainda não se acostumou com as voltas que a vida dá por puro conservadorismo, típico dos velhinhos. Mas os velhinhos podem, uma vez que já deram quase todas as voltas que podiam. Os não-velhinhos, não. Imaginamos que vamos ter as coisas e pessoas aqui para sempre. Imaginamos que nossos amigos sempre serão nossos vizinhos, que depois do terceiro horário vai tocar pro lanche, que as notas serão sempre boas, que o dinheiro nunca acaba, que a saúde é infinita, que a mentira não existe e que o mundo é feito de nuvens de algodão. Vamos achando que aquela pessoa, dentre as bilhões de pessoas que habitam o mundo, é a nossa escolhida, a única, pra todo o sempre. Imaginamos viver todos os nossos sonhos como se eles fossem ligados e desligados tal qual um interruptor de luz. Nos piores momentos cremos que a angústia será infinita e que viveremos no fundo do poço pro resto dos tempos. Mas a vida dá voltas, amigo velho. Quer você queira, quer não. Se quiser, melhor, porque as voltas virão naturalmente e serão mais aprazíveis. Se não quiser, paciência... a engrenagem não pára de rodar.

Lembre-se disso quando estiver muito feliz ou muito triste. Porque aquele momento só acontecerá de novo na próxima volta, isso se acontecer. Porque nenhuma dor, saudade, pensamento, emoção, dúvida, inquietação, tranqüilidade ou alegria será igual àquela da volta anterior. Experimente e veja. E sempre se pergunte o que a próxima volta trará de novo pra você.








Post Scriptum: Ê, vidão...


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...