terça-feira, 23 de novembro de 2010

Como ser um mau-exemplo

Semana passada me convidaram para dar uma palestra e falar sobre mentira. Comecei logo desmistificando essa coisa toda que rola em torno da mentira, que mentira é coisa ruim, que vai levar você pro inferno conforme prega a igreja. Aí aproveitei que tinha falado essa palavra, igreja, usei-a como exemplo e, assim sendo, bastou dizer duas outras palavras para estampar meu ponto-de-vista: dinheiro e criancinhas. O riso cínico da platéia mostrou que eles tinham entendido a mensagem.

Daí eu prossegui dizendo que mentira não é uma coisa de toda má. Mentir é como contar uma boa história... Você vai falando as coisas, no começo meio que desordenadamente, por vezes mesclando com fatos verídicos e, no fim, tem uma historinha semi-verdadeira e semi-cara-de-pau. Importantíssimo é que se acredite na mentira que você está contando, afinal, se você que é o criador não acreditar na sua criação, quem o fará? Não menos importante também é ter boa memória e atenção aos detalhes, uma vez que existe muita gente que gosta de pegar os outros no "contrapé".

Outra coisa que gerava muita confusão era a diferença entre mentir e omitir. Omissão é quando a mentira - ou verdade - não vale a pena ser contada. Aquele ocorrido que é posto debaixo do pano e deixado para que as traças deflorem com o passar do tempo. Já mentir é mentir. São duas coisas diferentes, diametricamente opostas e que não se relacionam necessariamente. Nessa hora um garoto da platéia que beirava os vinte e poucos anos fez um apontamento muito lúdico... Ele disse: omitir, então, é quando você trai a namorada e não diz e mentir é quando você diz negando, é isso? Eu não lembro direito o que respondi, até mesmo porque a garota logo ao lado do rapaz começou a ficar desconfortável repentinamente, mas achei o pensamento dele um tanto sagaz. Por cautela, acabei sugerindo que, se fosse uma situação de aperto grande, omitisse e visse no que dava. Afinal de contas, nem toda granada sem pino está fadada à explosão.

Depois de muitos aplausos e muita ovação, finalizei minha palestra dizendo que aquilo tudo não passava de uma grande mentira, mas parece que ninguém acreditou.

[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...