domingo, 28 de fevereiro de 2010

Escolhas

Creio que não haja nada mais cliché e mais "auto-ajuda" do que discutir a respeito de escolhas. Não faltam filmes, textos e livros abordando o assunto, logo não posso esperar que daqui saiam grandes novidades. Mas a questão é que são as escolhas, sim, que ditam nosso caminho no curso da vida. Nesse momento, por exemplo, este que vos humildemente escreve poderia estar fazendo qualquer outra coisa, como estar na praia, em casa, no alto de uma montanha ou dentro de um carro fazendo uma viagem prolongada, e, mesmo estando na praia, poderia estar bebendo cerveja, ou tomando sol, olhando o horizonte, etc. E o que definiria tudo isso, em última instância, seriam as escolhas tomadas por mim. Claro que aqui eu falo a esmo, dando exemplos esporádicos que poderiam de fato ser verdade, mas que não excluiriam qualquer outra possibilidade de desfecho.

E quando falo de escolhas é impossível não lembrar de um exemplo que escutei uma vez e que faz uma bela alusão àquilo que pretendo evidenciar. Imagine uma pessoa andando por um caminho que, por hora, apenas leva a um destino, uma direção. Uma vez que não há outras possibilidades de percurso, a pessoa vai seguindo meio que em modo "automático". De repente, surge no caminho uma bifurcação: um caminho para a direita e outro para a esquerda. Nesse momento a pessoa pára e essa parada tem um objetivo primordial: escolher. E não se engane com a aparente simplicidade da situação; essa não é uma escolha tão trivial assim. Isso tudo porque a pessoa não decidirá apenas por onde ir, mas também por onde não ir. Parece confuso quando se tem de escolher entre duas variáveis, como o exemplo, mas aumentando o número de caminhos (para três ou quatro) percebemos que a escolha do "por onde não ir" assume maior relevância, já que a quantidade de caminhos a serem descartados é maior.

Assim sendo, é perceptível que toda escolha envolve, na verdade, outras escolhas intimamente ligadas à ela. Não há, portanto, uma escolha pura, ou seja, uma escolha que esteja totalmente dissociada de outras escolhas. Confuso de novo, né?! Tudo bem... vamos aos exemplos. Escolher ir à praia é escolher não ir, por exemplo, ao cinema, ao restaurante, ao parque, enfim. Escolher beber cerveja é escolher não beber vodka, uísque, cana, suco de laranja ou água mineral. Escolher namorar a galega é escolher não namorar a morena, a ruiva, a careca, etc. Enfim, escolher algo implica em não escolher uma série de outras coisas. No fundo, não escolhemos uma coisa em detrimento de outra apenas por escolher, mas, sim, porque a nossa escolha oferece mais benefícios que qualquer outra escolha naquela conjuntura. Escolher "isso" é não escolher "aquilo" e o que seria uma simples escolha acaba se desdobrando em duas ou três.

Com isso, fica fácil ver porque certas escolhas - na verdade, a maioria delas - nos tomam tanto tempo de julgamento e ponderação. Como o universo de possibilidades nunca se resume a duas ou três perspectivas, a decisão em torno de determinada escolha se torna pouco trivial. E a sua pouca trivialidade faz jus a relativa importância que o processo de escolha tem em nossas vidas. Afinal, sendo bem pragmático, nós somos nossas escolhas. Escolhemos o que vamos ser quando crescer, com quem vamos casar, se e quando vamos ter filhos, que carro comprar, para onde viajar e se devemos ou não escrever aquilo que nossa mente manda. As escolhas que fazemos, os caminhos que tomamos, tudo reflete diretamente no modo como vivemos, somos e pensamos. É como já dizia aquele clichê jurássico: "tudo é uma questão de escolha". Na verdade, tudo é um questão de escolhas. Escolhas.

E quando você for tomar sorvete da próxima vez, lembre-se: não é só de morango, chocolate ou flocos que se faz uma sorveteria.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...