segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Empurrãozinho

Fingia que era médico na cara-de-pau mesmo. Mentia, mas mentia com fervor de modo a não deixar margem para desconfianças. Tampouco simpatizava com a arte da cura - na verdade, sempre achei aquilo tudo uma grande enrolação -, mas precisava desse "disfarce" para colocar em prática meu plano.

E, assim, as pessoas começaram a vir. E reclamavam de tudo: farnizim, ânsia de morte, passamento, sistema nervoso, garganta, cobreiro, maleita, impingem, peito gordo, bexiga baixa, esquecimento, amarelão, chiado, perna fraca, bicho-geográfico e vontade-de-sei-lá. E tinha mais, bem mais. Sempre tem. E para todas eu dava seis meses de vida indiscriminadamente. Seis meses porque achei um tempo mais que justo e suficiente. Seis meses porque não é tão pouco quanto um mês nem tanto quanto um ano. Sei meses. Contados. E não vou dizer que elas saíam felizes. O choque, na verdade, era a primeira sensação, acompanhada de perto por um intenso sentimento de negação. Mas assim elas iam.

E sabe o que foi o melhor de tudo? Ver todas aquelas pessoas, de repente, realizando seus mais queridos e preciosos sonhos.


domingo, 14 de agosto de 2011

Bicicleta

É massa.

Ladeira abaixo,
fronte apontada para o céu,
olhos semi-cerrados,
cabelos ao vento,
mãos apertando levemente o guidão,
leve trepidação do conjunto,
sensação de liberdade, serenidade, felicidade...
Enfim.

É massa demais.
Esse é todo o seu universo e nada pode ser mais legal.
Nada.

Até o dia que você tira as rodinhas.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Drogadição?

Usuário de droga que é - ou já foi - usuário de droga sabe: droga vicia. Parece engraçado e ridículo até você experimentar e ver que é verdade. Funciona assim...

Você, o seu corpo, funciona de uma determinada maneira padrão. Você usualmente tem hábitos saudáveis, tipo correr, comer, dormir, estudar, ver filme, beber vinho, ter sexo casual, ter sexo todo dia, et cetera. Logo, seu corpo passa a operar de uma forma mais ou menos cíclica, sempre sofrendo influência dos seus hábitos diariamente. Esse ciclo, por assim dizer, não precisa de nada além do que já tem para se autoperpetuar. Homeostase perfeita.

Aí um belo dia você decide experimentar uma coisa nova: uma droga. Aí seu corpo se depara com algo estranho e isso meio que esculhamba todo aquele ciclo no qual seu corpo estava acostumado a operar. A sensação é boa - coração acelera, pensamento vai nas nuvens, borboletas irrompem estômago adentro - e, por isso, associando a droga à sensação, o corpo faz com que o ciclo passe a depender dela. Daí nem importa mais se você come bem, corre longas distâncias ou pratica sexo todo dia... O que importa agora é a droga.

Aí é que a casa cai. No início, enquanto você ainda crê que está "controlando" a coisa, toda situação na qual tem droga no meio te é deveras convidativa. Você sempre dá um jeitinho de aparecer, dar as caras, só pra ver a droga de novo, experimentá-la de novo, sentir o que ela tem pra te oferecer. Aí depois, bem depois, você mesmo começa a forjar situações só pra encontrar a droga, mesmo sabendo que no fundo você está atentando contra si. E a droga vai te consumindo dia após dia, e não sai mais da sua cabeça, e você começa a ficar sem saber o que fazer, pensa que vai pirar, que não pode mais viver sem ela. A droga agora é a sua vida. Você, de fato, é um adicto. E tá fudido até a última gota. Ou ponta. Ou pedra.








Agora leia de novo trocando as expressões em negrito pelo nome da pessoa que você mais gosta ou ama e veja a prova que o amor é uma droga.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...