sábado, 6 de outubro de 2007

Foi quase

Se tem uma coisa que sempre me incomodou nessa vida sofrida de meu Deus é o quase. "Ah, eu não consegui. Mas foi quase...". Quase, bicho?! O quase é aquela coisa que nem te torna vencedor nem muito menos fracassado. Ele te deixa alí pelo meio do caminho, mais desorientado que cego em tiroteio, tentando achar (ou criar) explicação pr'aquilo que não tem. É como nadar e morrer na areia. Não verdade, é exatamente nadar e morrer na areia. Pior do que a certeza absoluta da vitória ou da derrota, é a incerteza de um quase. É um ponto de interrogação enorme, que posterga aquilo que você deveria saber na hora que deveria saber. Angustia-me, esse "quase".

Não fosse pela nossa necessidade extrema de saber de tudo na nossa hora, o quase não seria lá grande problema. Mas o fato de ter uma certeza o mais rapidamente possível deixa essa palavrinha numa situação que causa imensa tensão. Imensa. E depois que passa você se pergunta se o esforço foi suficiente ou se aquilo era realmente difícil. Mas e se fosse difícil mesmo? Dificuldade é uma questão de perspectiva: depende de onde você está olhando. Daí, por mais alto, íngreme e atrabalhoado que seja, não há razão para deixar de correr com tudo, de peito aberto, na direção do desafio. Que se dane! É difícil, mas eu vou chegar lá. Uh uh uh!!! Bonito escutar isso, né?! É, lindo. Mas aí depois de fazer tudo certinho, de correr de peito aberto e terminar todo escoriado, vem a quase-vitória. Não sei vocês, mas eu, no meu inocente espírito de competição, considero uma quase-vitória como sendo uma certa-derrota. Ou ganha ou perde. Não ganhar implica necessariamente em perder. Não há lugar para meio-termo aqui. E se tem uma coisa que o quase é, é isso: meio-termo.

Agora pare e reflita. Quantas vezes amargamos o insucesso por conta de um mísero quase? Aquele emprego que quase deu certo, aquela nota que quase te passou por média, aquele dia que foi quase perfeito. Quase, quase, quase. E a gente vai quase endoidando, quase arrancando os cabelos, por ver que foi tudo assim, quase. Vai sendo quase-feliz, quase-saudável, quase-realizado. É ter o negócio na mão e ver ele ir embora voando porque você demorou demais para fechar os dedos. Isso é quase.

O conselho que eu dou, meu amigo, é o seguinte: dê sempre o melhor de si no que quer que você faça. Procure as melhores cantadas, seja o melhor no trabalho, tire o melhor do seu estudo, cuide da sua saúde o melhor que puder, viva o melhor que puder, faça tudo o melhor que puder. Quem sabe assim você diminui as chances de quase conseguir. E se o quase vier, saiba que ele pode apenas estar prorrogando o inevitável, o que, nesse caso, seria um consolo. Mas uma coisa é bem verdade nisso tudo. O "quase" é areia nos olhos, po. Ah, e como eu odeio areia...







Post Scriptum: Pra quem curte uma boa crônica, clique aqui, leia, e depois clique aqui. Eu recomendo.
[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...