Àqueles adeptos do fixismo peba e bitolado, já vou logo dizendo: esse post não é para vocês. Na verdade, passem longe desse blog porque tudo aqui tem um "quê" de claro e confuso, direto e prolixo, objetivo e subjetivo, incisivo e divagante, tudo no mesmo lugar e ao mesmo tempo, sempre dicotômico por demais. Porque, enfim, é disso que a vida é feita: dicotomias. Carregamos dentro de si traços que se contradizem e, concomitantemente, complementam-se. Somos, por natureza, contraditórios, e por isso vivemos num eterno duelo de nós contra nós mesmos. "Seu maior inimigo é, por vezes, aquele que vive dentro de você", disse alguém que eu não faço a mínima idéia de quem seja. Nada mais verdadeiro que isso, principalmente pra quem já esteve em certas situações por aí afora. Somos a raça da inconstância e da falta de linearidade.
Somos, por exemplo, metade música e metade silêncio. Bastar ver como naturalmente reagimos às notícias boas, às coisas que dão certo. Queremos extravasar aquela empolgação pra todos os lados, pra todo o mundo, em todas as direções. "Grite para o mundo, grite para o mundo!", diz aquela vozinha no fundo da nossa nuca. E, assim, nós abrimos os braços na sua máxima envergadura, olhamos pra cima com o maior sorriso de todos e gritamos: AAAAAHHHHRRRRRGGGGG!!! Dá até vontade de voar, né?! Há até quem diga que esses momentos têm trilha sonora própria. Vai saber... E mais impressionante ainda é como podemos subitamente entrar na introspecção profunda e analítica. Como no estalar de um dedo, passamos a enxergar tudo etereamente, em slow motion, observando atentamente cada segundo, cada movimento, permeados por um silêncio sepulcral. Zero decibéis. Zero. Nada.
Somos ainda metade cólera e metade temperança. E nem precisa ir tão longe pra notar. Pense, por exemplo, no que você sente quando vê aquelas notícias na TV sobre algum filho da puta que estuprou uma garotinha de 12 anos, de algum político corrupto - o que, no nosso caso, é considerado pleonasmo extremamente vicioso - que, depois de tanta roubalheira, achou um jeito de continuar livre, impune e acima de todo mundo, ou de algum filhinho de papai que espanca empregadas domésticas trabalhadoras por confundirem elas com prostitutas. Prostituta, na verdade, é a mãe de todos eles - estuprador, político e playboy - e o mínimo que eles mereciam é uma boa surra com vara de bambu durante infinitas semanas seguidas. Essa é a minha cólera. Sorte sermos também os seres que se comovem com certas situações daqueles que, segundo aquele rapaz que morreu na cruz, deveríamos chamar de irmãos. É bom saber que existe um resquício de bondade, caridade e doação nesse mundo. O querer ajudar os outros. Sempre. Essa é a minha temperança.
Somos também metade matemática e metade filosofia. A precisão da ciência exata nos cabe bem nas situações em que precisamos ser exatos (dã!), diretos, claros, enxutos e incisivamente pontuais. Aqui, um alô especial pr'aqueles pobres universitários de meu-Deus que varam noites estudando pra alguma prova sem noção, pra os cirurgiões dos plantões infindáveis e infinitos, pra os pré-vestibulandos e pra todos aqueles que, por vontade ou necessidade, usam mais o cérebro que o coração. Tem uns, inclusive, que nem coração têm mais, o que é triste de certo modo. Ao contrário, portanto, dos divagadores natos, daqueles que vivem nos devaneios, de olhar para o horizonte e de achar sempre que o caminho é mais importante que o destino. Até que eles têm razão. É de tanto pensar numa boa cantada, num bom approach, numa mentira deslavada pra explicar a embriaguez da noite passada, numa desculpa por sempre chegar atrasado ou simplesmente pensar demais em tudo que eles são assim, tão filosoficamente indecisos, desligados, confusos em si. Somos assim, matematica e filosoficamente falando.
Por fim, o meu favorito: a nossa metade anjo e a outra, demoníaca. E nem venha com cara de surpresa pra cima de mim. Se tem uma coisa que nós somos sempre é a mistura do andar lá de cima e do de baixo. Isso renderia um post por si só. E eu, de cara, já ia logo falando dos padres pedófilos pegos com as calças (e outras coisas) na mão. Quer exemplo mais lúdico que esse? Completamente abominável, mas não tem como negar. O bem e o mal coexistem em tudo. Lembro de um comercial de desodorante que passava há uns anos atrás. Axe Fusion. Um cara na beira da calçada, esperando o sinal fechar para poder atravessar a rua. Uma moça vem caminhando displicentemente e, sem notar, quase seria atropelada, não fosse o braço estendido do rapaz que a conteve em sua ação suicida. A grande jogada de marketing, intertextualizando com a idéia de fusão do desodorante: a mão do rapaz, após seu ato heróico, para exatamente sobre a mama esquerda da moça. Sem falar que o logotipo da embalagem era o desenho de um dragão vermelho abraçado com um pégaso azul-celeste. Dragão. Celeste. Fusion. Nunca vi nada mais coerente do que isso. Vivemos a sentir nossos pégasos e dragões degladiando-se, vendo quem vai ditar o rumo das coisas. É a raiva e a paciência, a esmola e o insulto, a admiração e o desprezo, a mão que afaga e arranha ao mesmo tempo. Mas no fim somos um só.
Certa vez, foi-me dito por um professor de física que a natureza tem uma inclinação severa à simetria, embora isso ainda seja deveras controverso. Duas orelhas, dois rins, dois pulmões... Sol e lua, dia e noite, água e fogo. Seria muito mais fácil acreditar que nós somos o resultado constante de forças que nos puxam para lados opostos mas que, no fim, nos fazem caminhar em linha reta. São como pratos de uma balança, como um par de enantiômeros. Uma metade e a outra, contrabalanceando-se. Tô começando a achar que ele tinha razão. É... ele até que tinha razão.
Somos, por exemplo, metade música e metade silêncio. Bastar ver como naturalmente reagimos às notícias boas, às coisas que dão certo. Queremos extravasar aquela empolgação pra todos os lados, pra todo o mundo, em todas as direções. "Grite para o mundo, grite para o mundo!", diz aquela vozinha no fundo da nossa nuca. E, assim, nós abrimos os braços na sua máxima envergadura, olhamos pra cima com o maior sorriso de todos e gritamos: AAAAAHHHHRRRRRGGGGG!!! Dá até vontade de voar, né?! Há até quem diga que esses momentos têm trilha sonora própria. Vai saber... E mais impressionante ainda é como podemos subitamente entrar na introspecção profunda e analítica. Como no estalar de um dedo, passamos a enxergar tudo etereamente, em slow motion, observando atentamente cada segundo, cada movimento, permeados por um silêncio sepulcral. Zero decibéis. Zero. Nada.
Somos ainda metade cólera e metade temperança. E nem precisa ir tão longe pra notar. Pense, por exemplo, no que você sente quando vê aquelas notícias na TV sobre algum filho da puta que estuprou uma garotinha de 12 anos, de algum político corrupto - o que, no nosso caso, é considerado pleonasmo extremamente vicioso - que, depois de tanta roubalheira, achou um jeito de continuar livre, impune e acima de todo mundo, ou de algum filhinho de papai que espanca empregadas domésticas trabalhadoras por confundirem elas com prostitutas. Prostituta, na verdade, é a mãe de todos eles - estuprador, político e playboy - e o mínimo que eles mereciam é uma boa surra com vara de bambu durante infinitas semanas seguidas. Essa é a minha cólera. Sorte sermos também os seres que se comovem com certas situações daqueles que, segundo aquele rapaz que morreu na cruz, deveríamos chamar de irmãos. É bom saber que existe um resquício de bondade, caridade e doação nesse mundo. O querer ajudar os outros. Sempre. Essa é a minha temperança.
Somos também metade matemática e metade filosofia. A precisão da ciência exata nos cabe bem nas situações em que precisamos ser exatos (dã!), diretos, claros, enxutos e incisivamente pontuais. Aqui, um alô especial pr'aqueles pobres universitários de meu-Deus que varam noites estudando pra alguma prova sem noção, pra os cirurgiões dos plantões infindáveis e infinitos, pra os pré-vestibulandos e pra todos aqueles que, por vontade ou necessidade, usam mais o cérebro que o coração. Tem uns, inclusive, que nem coração têm mais, o que é triste de certo modo. Ao contrário, portanto, dos divagadores natos, daqueles que vivem nos devaneios, de olhar para o horizonte e de achar sempre que o caminho é mais importante que o destino. Até que eles têm razão. É de tanto pensar numa boa cantada, num bom approach, numa mentira deslavada pra explicar a embriaguez da noite passada, numa desculpa por sempre chegar atrasado ou simplesmente pensar demais em tudo que eles são assim, tão filosoficamente indecisos, desligados, confusos em si. Somos assim, matematica e filosoficamente falando.
Por fim, o meu favorito: a nossa metade anjo e a outra, demoníaca. E nem venha com cara de surpresa pra cima de mim. Se tem uma coisa que nós somos sempre é a mistura do andar lá de cima e do de baixo. Isso renderia um post por si só. E eu, de cara, já ia logo falando dos padres pedófilos pegos com as calças (e outras coisas) na mão. Quer exemplo mais lúdico que esse? Completamente abominável, mas não tem como negar. O bem e o mal coexistem em tudo. Lembro de um comercial de desodorante que passava há uns anos atrás. Axe Fusion. Um cara na beira da calçada, esperando o sinal fechar para poder atravessar a rua. Uma moça vem caminhando displicentemente e, sem notar, quase seria atropelada, não fosse o braço estendido do rapaz que a conteve em sua ação suicida. A grande jogada de marketing, intertextualizando com a idéia de fusão do desodorante: a mão do rapaz, após seu ato heróico, para exatamente sobre a mama esquerda da moça. Sem falar que o logotipo da embalagem era o desenho de um dragão vermelho abraçado com um pégaso azul-celeste. Dragão. Celeste. Fusion. Nunca vi nada mais coerente do que isso. Vivemos a sentir nossos pégasos e dragões degladiando-se, vendo quem vai ditar o rumo das coisas. É a raiva e a paciência, a esmola e o insulto, a admiração e o desprezo, a mão que afaga e arranha ao mesmo tempo. Mas no fim somos um só.
Certa vez, foi-me dito por um professor de física que a natureza tem uma inclinação severa à simetria, embora isso ainda seja deveras controverso. Duas orelhas, dois rins, dois pulmões... Sol e lua, dia e noite, água e fogo. Seria muito mais fácil acreditar que nós somos o resultado constante de forças que nos puxam para lados opostos mas que, no fim, nos fazem caminhar em linha reta. São como pratos de uma balança, como um par de enantiômeros. Uma metade e a outra, contrabalanceando-se. Tô começando a achar que ele tinha razão. É... ele até que tinha razão.