domingo, 2 de setembro de 2007

Nunca se sabe

Imprevisibilidade. T'aí uma coisinha da vida que eu acho interessante, muito interessante. É algo que a gente não liga muito, que passa despretensiosamente, mas que nos motiva a fazer certas coisas, que nos encoraja, instiga e, por vezes, põe nossa racionalidade a prova. Lembro-me bem da primeira vez que eu atentei para isso de modo mais introspectivo: olhava estaticamente para uma vela, imaginando que sua chama fosse minha vida. Mas nada do que conseguisse conjurar naquela hora seria decisivo, certo ou esperado. Isso porque simplesmente é imprevisível. Não temos esse poder de descobrir acertadamente o que nos virá no próximo segundo. E se tivéssemos, tudo perderia a graça. Pode ter certeza. Aspirantes à vidente morreriam de fome, se dependessem de mim. Eles não sabem o que dizem. Já um cara alí, chamado Heisenberg, tornou-se famoso por criar um princípio baseando-se exatamente na imprevisibilidade das coisas. Rapaz esperto, ele.

É o suspense e o fato de não saber o que vai acontecer que deixam as coisas mais interessantes. Daí a gente aprende a arriscar, a viver com ousadia. "Quem não arrisca, não petisca", já dizia meu primo filósofo toda vez que ia jogar os dados, enquanto a gente se degladiava em War II. O risco, pois, precede a sensação de "valer a pena", sensação essa que vem com a vitória. Na derrota, resta ao menos o aprendizado. Perceba que, independente da situação, precisa-se arriscar, pois a imprevisibilidade assim nos obriga. Portanto, falta de coragem é algo inconcebível. Arrisque-se, porra! Charles Chaplin já dizia: "O mundo pertence a quem se atreve". Charles Chaplin e meu primo eram gênios, não?!

Mas não é sobre riscos e vitórias que eu quero discutir hoje. Isso fica pra depois. Um outro post, quem sabe. A discussão de hoje é diferente, embora seja um lugar-comum. Advém da própria imprevisibilidade na qual todas as nossas vidas se inserem. Provavelmente você já pensou sobre isso um dia. Enquanto olhava para a vela, era nisso que eu pensava... até que a vela apagou e eu fiquei sem fazer nada. Nada. Mas e você? O que faria se hoje fosse o dia da sua vela apagar? O que você faria se hoje fosse o seu último dia?

Profundo, não? É, muito profundo. Confesso que perguntei de propósito. E das poucas vezes que me pego pensando nisso, chego a coisas diferentes. Se hoje, por exemplo, fosse meu último dia, eu faria coisas que talvez não fossem tão importantes amanhã, ou depois de amanhã. Deve-se isso a uma estranha mania que o ser humano tem de ser imediatista, de querer tudo agora e agora mesmo. Comigo não é diferente, acredite. Eu tenho lá meus momentos. Você também tem. Pode não querer admitir, como sempre fazemos com as coisas que nos convêm esconder, mas tem. E talvez, sabendo que hoje seria seu último dia, desse em você vontade de correr pelado pelo meio da rua, roubar uma loja de carros, comprar tudo que visse pela frente e ficar rezando pra que amanhã o mundo acabasse mesmo.

Humildemente, digo-lhes que, se amanhã minha vela apagasse, eu faria hoje tudo que me meteu medo durante toda a vida. Mas calma! Não tô falando aqui de fazer sexo sem camisinha ou dirigir em estado de completa embriaguez. Isso seria idiotice. Falo de, por exemplo, dizer "eu te amo" pra uma pessoa que eu amo de verdade. A banalização das coisas hodiernas associada ao meu lado leptossomático faz com que, por vezes, essa fala saia meio abafada. Ou, mais comumente, não saia. Pediria também um monte de desculpas pra um monte de gente, inclusive pr'aquelas pessoas que eu tratei com indiferença apenas por não entender que o jeito falso e sem-caráter é uma característica delas. Pediria sim. Pobres coitadas. Também ajudaria todas as pessoas que não merecem apenas para que elas tivessem mais uma chance de perceber que estão no caminho errado. Enfim, continuaria fazendo tudo que as 48 horas do meu dia permitissem (é, meus dias têm 48 horas). E quando todas as coisas assustadoras acabassem, eu partiria para as outras coisas, aquelas que todo mundo no meu lugar certamente pensaria em fazer. Primeiramente, iria ao hospital dar um abraço num certo amigo apenas por ter feito minhas manhãs mais felizes. Felizes demais, até. Diria a uma certa amiga que não se preocupasse por não saber o que fazer a respeito das coisas. Esse tempo todo falei como se soubesse, mas na verdade estava tão desorientado quanto ela. Entraria pela janela sempre aberta das pessoas para dar o último abraço de despedida, dizendo, obviamente, que depois a gente se veria novamente. Roubaria uma loja de doces e comeria quantos pudesse, contrariando minha própria vontade, apenas para ter o prazer de ter tido um comportamento de gordo um dia. E terminaria o dia na praia, olhando para o horizonte por uma última vez apenas para ter a certeza de que aquela linha lá longe é reta mesmo. Isso sempre foi algo que muito me intrigou.

E dormiria na areia o sono dos justos. Para acordar no outro dia e olhar tudo lá de cima. Ou lá de baixo. Nunca se sabe, né?! Com essa imprevisibilidade toda, nunca se sabe.








Post Scriptum 1: Um beijo para minha mais nova fã, Luíza: bêjo, Luíza, bêjo.

Post Scriptum 2: Desculpem a minha demora em atualizar essa piromba. As 48 horas estão se tornando obsoletas...
[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...