Era chegado o dia. Depois de doze anos alí dentro, o tão aguardado dia chegara. Para eles, abrir os olhos e vislumbrar a possibilidade de uma mudança era algo que nunca estivera tão palpável. Por doze anos, ambos dividiram celas vicinais, separadas por uma maciça parede de tijolos sem cor, sem vida. Doze anos antes, por aquilo que alegaram ser "fraqueza de espírito", deixaram que o sangue subido à cabeça ceifasse uma vida rebenta em um ato impensado, coisa que não aconteceu nos cento e quarenta e quatro meses seguintes. Impensar. Impensar era muito pra quem já não tinha nada, mas não era suficiente. Não ter nada - amigos, família, dinheiro - era mais que suficiente. Talvez vergonha. E cautela que o medo talvez reponha.
Nesses tempo todo, que agora parecia ontem, muitas manhãs foram de guerra. Pra ambos. Deu vontade de dizer adeus, mas até isso lhes foi vetado. Era preciso estar aqui, assim, para que quando o momento de hoje chegasse, o lado de fora da porta fosse contemplado de outra forma. Da forma que fosse, mas de outra.
Mas também houve muitas manhãs de paz. As cabeças não eram iguais, apesar dos poucos cabelos que agora assentiam à brisa, nunca antes percebida com tanta agrabilidade. O tempo, por si só, opera alguma coisa. Milagre? Talvez. Mas é difícil acreditar em milagre quando o silêncio te chama de amigo por quase todo o dia. De todo modo, diziam que o sol que se põe é o mesmo que nasceu. E ele sempre nasce, para, depois, pôr-se.
E embora a cama fosse dura e a cela abafada, a sensação de adeus viera pesarosa, como aquela que se sente quando se volta à terra natal. Todos os detalhes, tudo que fazia lembrar cada dia. Mas era hora de ir. Homens livres, por lei, tinham que ir para dar lugar àqueles com os quais a lei se desentendera. Foi um longo processo desde o momento de se levantar até o de finalmente ir de encontro à porta. Mas ela estava lá. E foi quando ela foi aberta e a fresta de luz acompanhou toda a sua angulação crescente pelo chão. E os dois pisaram, enfim, do lado de fora. Lado a lado, como meros desconhecidos.
O primeiro olhou para o chão e contemplou a lama.
O segundo olhou para o céu e contemplou o sol, que, por sinal, acabara de nascer.
Nesses tempo todo, que agora parecia ontem, muitas manhãs foram de guerra. Pra ambos. Deu vontade de dizer adeus, mas até isso lhes foi vetado. Era preciso estar aqui, assim, para que quando o momento de hoje chegasse, o lado de fora da porta fosse contemplado de outra forma. Da forma que fosse, mas de outra.
Mas também houve muitas manhãs de paz. As cabeças não eram iguais, apesar dos poucos cabelos que agora assentiam à brisa, nunca antes percebida com tanta agrabilidade. O tempo, por si só, opera alguma coisa. Milagre? Talvez. Mas é difícil acreditar em milagre quando o silêncio te chama de amigo por quase todo o dia. De todo modo, diziam que o sol que se põe é o mesmo que nasceu. E ele sempre nasce, para, depois, pôr-se.
E embora a cama fosse dura e a cela abafada, a sensação de adeus viera pesarosa, como aquela que se sente quando se volta à terra natal. Todos os detalhes, tudo que fazia lembrar cada dia. Mas era hora de ir. Homens livres, por lei, tinham que ir para dar lugar àqueles com os quais a lei se desentendera. Foi um longo processo desde o momento de se levantar até o de finalmente ir de encontro à porta. Mas ela estava lá. E foi quando ela foi aberta e a fresta de luz acompanhou toda a sua angulação crescente pelo chão. E os dois pisaram, enfim, do lado de fora. Lado a lado, como meros desconhecidos.
O primeiro olhou para o chão e contemplou a lama.
O segundo olhou para o céu e contemplou o sol, que, por sinal, acabara de nascer.