Charles Darwin sabiamente disse que a natureza é operada pela evolução. Assim, peixes viraram anfíbios, que viraram répteis, que viraram aves e mamíferos. Os peixes nadam, os répteis têm escamas, as aves põem ovos e os mamíferos dão leitinho aos seus rebentos. Contudo, uma coisa permeia a vida de toda e qualquer espécie, inclusive aquelas que precederam os vertebrados superiores: vive-se tão somente para se reproduzir. O que importa, a nível evolutivo, é que seus genes sejam passados a jusante, e se você consegue fazer isso é porque está evolutivamente apto, teoricamente falando. Logo, é de praxe que se comece nascendo, para depois crescer, reproduzir-se, envelhecer e, por fim, bater das botas. Se posto num gráfico, esse ciclo resultaria numa curva gaussiana onde no ápice estaria a parte do "reproduzir-se". Em termos de evolução, a reprodução é algo muito lucrativo. Sem falar, claro, na parte lúdica.
Mas o objetivo aqui não é discutir as vicissitudes do ato em si, não. O produto pelo qual a aptidão evolutiva é perpetuada é, pois, o resultado direto do processo reprodutivo, ou seja, a prole. No caso do Homo sapiens, apelido do ser humano que pensa ter o dom exclusivo da sapiência e da racionalidade, dá-se o nome de filho. Os filhos, portanto, são os alevinos da raça humana. Nascem sem qualquer graça, perspicácia ou capacidade de se defender, e vêm com um kit ultra-básico no HD que mal dá pra suprir necessidades básicas, como andar ou comer. Em contraposição, tem os filhotes de elefante, por exemplo, que, arrefecendo de inteligência, já nascem andando. Por isso, mas que qualquer outra espécie, a prole humana necessita em severa demasia da constate vigilância e observância dos seus progenitores, para que não sejam moldados conforme as vontades do meio, que, segundo Rousseau, era deveras cruel.
Sendo assim, é fácil perceber como ter um filho é tarefa fácil. Tão fácil que tem criança que faz com divina destreza. Difícil, no entanto, é educá-lo de forma a diferenciá-lo de um macaco. E olhe que tem muito macaco por aí que num deixa nada a dever, viu?! De todo modo, é importante que, numa coletividade como a de hoje, que em nada difere da selva na qual vive o elefantinho, os filhos possam sobreviver sem grandes seqüelas. E essa é uma tarefa delegada quase - eu disse quase - que inteiramente aos pais. É preciso mostrar que nem tudo é docinho como pirulito, nem todas as pessoas dão presente e que o mundo não se resume ao quintal com piscina do vovô. Filhos são como pedra de mármore bruto: pra ficar bonito, tem que ir lapidando aos poucos e com cuidado.
Então é bom ir mostrando, desde pequetitinho, a verdade sobre as coisas. Não precisa chegar dizendo que Papai Noel capotou a carruagem, que o coelhinho da Páscoa morreu atropelado e que a cegonha entrou na turbina de um avião, muito embora toda criança goste de brinquedo embaixo da cama e ovo de chocolate na Páscoa. Tem que pôr as coisas com a devida sutileza. Tem que dizer que cerveja é bom mas tem que ter limites. Tem que explicar quem foi Einstein, o que ele fez na vida, porque o cabelo dele era daquele jeito e mostrar, dependendo do caso, uma ou duas equações pro moleque saber com quem tá lidando. Estimular, desde cedo, o gosto pelo esporte, incitando brincadeiras como tocar-a-campainha-e-correr, briga-de-galo e tora-réia. Nada de idiotices do tipo "Saia da chuva pra não gripar, menino!", "Não coma carne de porco", "Vá calçar as sandálias, já!" ou "Se eu souber que você tá roubando goiaba do terreno do vizinho, vou colocar de castigo!". Muitas infâncias são frustradas porque os pais ficam cerceando coisas essenciais na formação dos rebentos. Ao invés de ficar falando asneiras, vá ensinar como se faz uma pipa, como ser um profissional na corrida-de-tampinha, como dar cavalo-de-pau em carrinho-de-rolimã ou como construir uma casa na árvore de respeito. E nunca, jamais, em tempo algum minta. Nada de falar de leões como se fossem bichinhos de pelúcia, nada de ensinar a dirigir antes dos 12 anos (14 no caso das meninas), nada de dar o carro antes dos 15 (18, nas meninas) e nada de dizer que menino tem torneirinha e menina, florzinha. O nome é pênis e vagina, porra! Se for preciso, dê uma aula de anatomia mesmo. E diga também que serve para, entre outras coisas, mijar. MIJAR! Nem venha com essa de fazer pipi.
Desse modo, talvez eles - os filhos - não cheguem à adolescência como completos oligofrênicos. Nesse momento, sim, você poderá falar tudo sem qualquer comedimento. Vai e deve dizer que, mais do que qualquer outra coisa, ele vai ser julgado pelo que faz ou pelo que tem, em vez do sê-lo pelo que é. As notas, o tênis, o carro, a roupa, o corte de cabelo, o jeito de se vestir, de falar e todas as outras efemeridades terão mais significância que a inteligência e a bondade que possa existir em seu coração. Diga que, agora, toda vez que houver um momento de infinita alegria, a cerveja será boa inclusive se não houver nenhum limite. Diga que é vida é uma eterna senóide e que, não importa o ponto que esteja, sempre haverá um ombro para se debruçar. E, quem sabe, chorar. Aliás, diga que não há vergonha alguma em chorar por tristeza, raiva ou saudade. Pior é deixar isso ir corroendo por dentro até que não haja mais nada para corroer, até que o alicerce rache e tudo venha por terra. Fale dos amores, das aventuras, do mundo, do céu, do infinito. Fale de como o seu tempo era bom, como as coisas eram mais difíceis, como as coisas de hoje também já aconteciam antes. Para saber para onde têm de ir, filhos precisam primeiro saber de onde vieram. E nunca, jamais, em tempo algum deixe que a idade deles impeça-lhes de fazer qualquer coisa com a mesma inocência de outrora. Adulto que nunca viu o mar nunca vai poder dizer aos filhos o quão longe é o horizonte.
E mais uma coisa: lembre-os de nunca subestimar a reprodução e de sempre usar o paletó.
Mas o objetivo aqui não é discutir as vicissitudes do ato em si, não. O produto pelo qual a aptidão evolutiva é perpetuada é, pois, o resultado direto do processo reprodutivo, ou seja, a prole. No caso do Homo sapiens, apelido do ser humano que pensa ter o dom exclusivo da sapiência e da racionalidade, dá-se o nome de filho. Os filhos, portanto, são os alevinos da raça humana. Nascem sem qualquer graça, perspicácia ou capacidade de se defender, e vêm com um kit ultra-básico no HD que mal dá pra suprir necessidades básicas, como andar ou comer. Em contraposição, tem os filhotes de elefante, por exemplo, que, arrefecendo de inteligência, já nascem andando. Por isso, mas que qualquer outra espécie, a prole humana necessita em severa demasia da constate vigilância e observância dos seus progenitores, para que não sejam moldados conforme as vontades do meio, que, segundo Rousseau, era deveras cruel.
Sendo assim, é fácil perceber como ter um filho é tarefa fácil. Tão fácil que tem criança que faz com divina destreza. Difícil, no entanto, é educá-lo de forma a diferenciá-lo de um macaco. E olhe que tem muito macaco por aí que num deixa nada a dever, viu?! De todo modo, é importante que, numa coletividade como a de hoje, que em nada difere da selva na qual vive o elefantinho, os filhos possam sobreviver sem grandes seqüelas. E essa é uma tarefa delegada quase - eu disse quase - que inteiramente aos pais. É preciso mostrar que nem tudo é docinho como pirulito, nem todas as pessoas dão presente e que o mundo não se resume ao quintal com piscina do vovô. Filhos são como pedra de mármore bruto: pra ficar bonito, tem que ir lapidando aos poucos e com cuidado.
Então é bom ir mostrando, desde pequetitinho, a verdade sobre as coisas. Não precisa chegar dizendo que Papai Noel capotou a carruagem, que o coelhinho da Páscoa morreu atropelado e que a cegonha entrou na turbina de um avião, muito embora toda criança goste de brinquedo embaixo da cama e ovo de chocolate na Páscoa. Tem que pôr as coisas com a devida sutileza. Tem que dizer que cerveja é bom mas tem que ter limites. Tem que explicar quem foi Einstein, o que ele fez na vida, porque o cabelo dele era daquele jeito e mostrar, dependendo do caso, uma ou duas equações pro moleque saber com quem tá lidando. Estimular, desde cedo, o gosto pelo esporte, incitando brincadeiras como tocar-a-campainha-e-correr, briga-de-galo e tora-réia. Nada de idiotices do tipo "Saia da chuva pra não gripar, menino!", "Não coma carne de porco", "Vá calçar as sandálias, já!" ou "Se eu souber que você tá roubando goiaba do terreno do vizinho, vou colocar de castigo!". Muitas infâncias são frustradas porque os pais ficam cerceando coisas essenciais na formação dos rebentos. Ao invés de ficar falando asneiras, vá ensinar como se faz uma pipa, como ser um profissional na corrida-de-tampinha, como dar cavalo-de-pau em carrinho-de-rolimã ou como construir uma casa na árvore de respeito. E nunca, jamais, em tempo algum minta. Nada de falar de leões como se fossem bichinhos de pelúcia, nada de ensinar a dirigir antes dos 12 anos (14 no caso das meninas), nada de dar o carro antes dos 15 (18, nas meninas) e nada de dizer que menino tem torneirinha e menina, florzinha. O nome é pênis e vagina, porra! Se for preciso, dê uma aula de anatomia mesmo. E diga também que serve para, entre outras coisas, mijar. MIJAR! Nem venha com essa de fazer pipi.
Desse modo, talvez eles - os filhos - não cheguem à adolescência como completos oligofrênicos. Nesse momento, sim, você poderá falar tudo sem qualquer comedimento. Vai e deve dizer que, mais do que qualquer outra coisa, ele vai ser julgado pelo que faz ou pelo que tem, em vez do sê-lo pelo que é. As notas, o tênis, o carro, a roupa, o corte de cabelo, o jeito de se vestir, de falar e todas as outras efemeridades terão mais significância que a inteligência e a bondade que possa existir em seu coração. Diga que, agora, toda vez que houver um momento de infinita alegria, a cerveja será boa inclusive se não houver nenhum limite. Diga que é vida é uma eterna senóide e que, não importa o ponto que esteja, sempre haverá um ombro para se debruçar. E, quem sabe, chorar. Aliás, diga que não há vergonha alguma em chorar por tristeza, raiva ou saudade. Pior é deixar isso ir corroendo por dentro até que não haja mais nada para corroer, até que o alicerce rache e tudo venha por terra. Fale dos amores, das aventuras, do mundo, do céu, do infinito. Fale de como o seu tempo era bom, como as coisas eram mais difíceis, como as coisas de hoje também já aconteciam antes. Para saber para onde têm de ir, filhos precisam primeiro saber de onde vieram. E nunca, jamais, em tempo algum deixe que a idade deles impeça-lhes de fazer qualquer coisa com a mesma inocência de outrora. Adulto que nunca viu o mar nunca vai poder dizer aos filhos o quão longe é o horizonte.
E mais uma coisa: lembre-os de nunca subestimar a reprodução e de sempre usar o paletó.