quinta-feira, 26 de julho de 2007

Fazer chover - parte 1

Tudo começou lá pelos idos do ano de 2002. Ano decisivo, aquele. Esse garotinho que vos escreve tinha finalmente chegado no seu ano de "pré". Como todo e qualquer um que passa por isso, estava tão desorientado quanto cego em tiroteio. Pessoas novas, salas novas, matérias novas, provas novas, professores novos. Era tudo novo. Tudo exceto uma coisa: o garotinho. Esse ainda continuava o mesmo dos anos anteriores. Despreocupado demais com qualquer coisa, mania compulsiva de sorrir alto demais, aquelas coisas que vocês já conhecem.

E me lembro como se fosse hoje. Primeiro dia, aula de biologia com um tal de Hamilton. Daí ele olha pra turma e diz: "É isso aí, galera... Agora já tá valendo!". E, imediatamente, já começava suas explanações no quadro sobre Lineu e como ele tinha inventado o método taxonômico e blá-blá-blá. O garotinho, sentado lá atrás como fiel integrante da galera do fundão, ainda não tinha se dado conta de tudo. Tinha momentos que ele ficava lá atrás só olhando pra todo mundo. Tinha desde aquele que copiava até os movimentos respiratórios do professor até aquele que dormia e babava na cadeira. E o garotinho lá.

Mas ele não era tão mal aluno assim. Até o meados do mês de maio, ele estudava ferrenhamente. Não era exatamente um gênio, mas sim o que um amigo seu tinha dito uma vez como sendo "aquele que vence pelo esforço". Tirava suas notas boas e achava que isso era suficiente. Mas aí o cansaço chegou antes do esperado. E, de repente, ele saía da aula pra ir pra casa apenas jantar e dormir, para acordar no outro dia para almoçar e ir pra aula. E assim transcorreu-se o resto do ano. Por causa de uma greve, o vestibular tinha sido marcado para janeiro, do dia 12 ao dia 15. Dia 12 foi um dia tenso.

Enfim, o vestibular passara, começara as férias e tudo era só alegria. No finalzinho de janeiro, sai o resultado. Obviamente, o garotinho se tornou o mais novo aluno de cursinho. Obviamente. Ele e seu melhor amigo, que, embora tivesse passado na primeira fase em quinhentos e pouco, não tinha muitas esperanças. A gente até tomou guaraná pra comemorar a aprovação dele. E veio o resultado final e a confirmação de tudo. Agora era só esperar pelo resto do ano de 2003.

2003 começou tão estranho quanto 2002. Vida nova, sala nova, professores novos... concorrência nova. O garotinho percebia o quanto a vida alí naquela sala se parecia com aquela da savana africana: os leões atrás das zebrinhas indefesas. Era cada um por si e, até onde me diziam, Deus por todos. E assim se foi, se muita diferença do ano anterior. O cansaço veio do mesmo jeito, a preguiça, a falta de empolgação. A maioria das pessoas tinha poucos atrativos. Umas porque estudavam demais; outras, de menos. Continuava com aquela mania de sentar lá atrás e olhar tudo em volta. Tinha horas que era como se tudo ficasse em câmera lenta, todo mundo fazendo alguma coisa diferente ao mesmo tempo.

E, de novo, veio o vestibular. E, de novo, o garotinho não conseguira. Dessa vez, entretanto, com um agravante. O seu melhor amigo, aquele de tantas aventuras e conversas, de tantos momentos memoráveis, tinha conseguido. E agora o garotinho estava em um barco sozinho, sem ninguém pra compartilhar qualquer coisa que fosse. Triste, né?! Pois foi. Assim mesmo. O mais triste não foi nem saber que o resultado seria o fracasso. Isso, de certa forma, já era esperado. O pior, o que dilacerava, era saber que, daquele momento em diante, a caminhada ia ser solitária.

Mas assim foi. O ano de 2003 acabava sem nenhum grande atrativo. Nesse momento, o garotinho passava por uma mudança que nem ele mesmo tinha ciência. Algo que ele não estava acostumado. Algo que só veio porque as coisas aconteceram exatamente do jeito que aconteceram.








[continua no próximo episódio]
[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...