sábado, 27 de novembro de 2010

Baker Street







Baker Street
(Gerry Rafferty)

Winding your way down on Baker Street
Light in your head and dead on your feet
Well another crazy day
You drink the night away
And forget about everything


This city desert makes she feel so cold
It's got so many people but it's got no soul
And it's taken you so long
To find out you were wrong
When you thought it held everything


Used to think that it was so easy
Used to say that it was so easy
But you're trying, you're trying now
Another year and then you'd be happy
Just one more year and then you'll be happy
But you're crying, you're crying now


Way down the street there's a light in his place
He opens the door, he's got that look on his face
And he asked where you've been
You tell him who you've seen
And you talk about anything


He's got this dream about buying some land
He's gonna give up the booze and the one night stands
And then he'll settle down
In this quiet little town
And forget about everything


But you know he'll always keep moving
You know, he's never gonna stop moving
Cause he's rolling, he's the rolling stone
When you wake up, it's a new morning
The sun is shining, it's a new morning
When you're going, you're going home








Post Scriptum
1: Quem não escutar pode se intrigar de mim.

Post Scriptum 2: Obrigaaaado, Lisa.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Como ser um mau-exemplo

Semana passada me convidaram para dar uma palestra e falar sobre mentira. Comecei logo desmistificando essa coisa toda que rola em torno da mentira, que mentira é coisa ruim, que vai levar você pro inferno conforme prega a igreja. Aí aproveitei que tinha falado essa palavra, igreja, usei-a como exemplo e, assim sendo, bastou dizer duas outras palavras para estampar meu ponto-de-vista: dinheiro e criancinhas. O riso cínico da platéia mostrou que eles tinham entendido a mensagem.

Daí eu prossegui dizendo que mentira não é uma coisa de toda má. Mentir é como contar uma boa história... Você vai falando as coisas, no começo meio que desordenadamente, por vezes mesclando com fatos verídicos e, no fim, tem uma historinha semi-verdadeira e semi-cara-de-pau. Importantíssimo é que se acredite na mentira que você está contando, afinal, se você que é o criador não acreditar na sua criação, quem o fará? Não menos importante também é ter boa memória e atenção aos detalhes, uma vez que existe muita gente que gosta de pegar os outros no "contrapé".

Outra coisa que gerava muita confusão era a diferença entre mentir e omitir. Omissão é quando a mentira - ou verdade - não vale a pena ser contada. Aquele ocorrido que é posto debaixo do pano e deixado para que as traças deflorem com o passar do tempo. Já mentir é mentir. São duas coisas diferentes, diametricamente opostas e que não se relacionam necessariamente. Nessa hora um garoto da platéia que beirava os vinte e poucos anos fez um apontamento muito lúdico... Ele disse: omitir, então, é quando você trai a namorada e não diz e mentir é quando você diz negando, é isso? Eu não lembro direito o que respondi, até mesmo porque a garota logo ao lado do rapaz começou a ficar desconfortável repentinamente, mas achei o pensamento dele um tanto sagaz. Por cautela, acabei sugerindo que, se fosse uma situação de aperto grande, omitisse e visse no que dava. Afinal de contas, nem toda granada sem pino está fadada à explosão.

Depois de muitos aplausos e muita ovação, finalizei minha palestra dizendo que aquilo tudo não passava de uma grande mentira, mas parece que ninguém acreditou.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Taqui-

A pressa é mesmo algo que nos consome.

Hoje acordei atrasado. O alarme gritava "já são sete horas!" com quarenta e cinco minutos de atraso. Levantei - tentei, na verdade, pois a cama me abraçava como uma amante na manhã seguinte - pisando em alguns dos brinquedos de Jack, meu fiel cão. Chamei por Mara, minha namorada, mas ela não respondeu. Certamente, ela não tinha perdido a hora. Fiz-me pronto num átimo. Jaleco, gravata, sapato e aquele perfumezinho barato, porém simpático em menos de nove minutos... Um recorde! Peguei as chaves do meu Toyota e pisei fundo com os dois pés no acelerador. Cheguei à casa do meu irmão para pegar meu sobrinho, Vinícius, e deixá-lo na aula de piano. A pressa fez com que ele entrasse no carro ainda comendo o pão com requeijão, coitado.

Mas foi quando ele desceu na escola que eu percebi que não tinha um cachorro chamado Jack, nem uma namorada chamada Mara, nem sequer um carro. Sobrinho, então...

Você não vale a pena, Pressa.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tapa de luva

Estavam todos contra mim. Parecia que só eu fazia coisas erradas. Parecia que somente eu gostava de fazê-las. Na boca dos outros, eu era um canalha, um calhorda, cafajeste mesmo. Porque tinha que viver à sombra do que todo mundo dizia ser "certo", "nobre" e "virtuoso". Mas eu insistia que certos erros, como aquele, precisavam ser cometidos uma vez. Tamanha era a satisfação que, para alguns, inclusive, uma vez não era simplesmente suficiente. Findou que acabei gostando deles e, ao que parecia, eles de mim.

Daí todo mundo pegou sua indignação e seu punhado de hipocrisia, colocou no bolso e foi embora. Todo mundo menos aquele velhinho que limpava a calçada. Ele me olhava com tanta dificuldade por entre as rugas que o tempo lhe trouxera que por um instante achei que aquela austeridade fosse de propósito. E era só o que me faltava: escutar de um velhote que eu não devia ter feito aquilo...

- Vai começar a me julgar também, velho? - perguntei.

- Não mesmo. Julgar é coisa de gente velha e sábia. E para sermos velhos e sábios temos antes que ser jovens e estúpidos.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

É culpa da Frida

Ah, as histórias de amor...


Joel era um típico garoto de vinte e poucos anos. De família não tão rica e nem tão pobre assim, Joel sempre foi esforçado no que fazia. No colégio católico no qual estudou durante todo o segundo grau, não se matava para tirar sempre nota dez, muito embora quase nunca tirasse seis ou sete. Fez amigos, alguns poucos para a vida toda, terminou o colégio, entrou na faculdade... Como se pode ver, essa parte da sua vida não distoava da dos outros garotos da sua idade. Além disso, Joel era uma pessoa muito empática e comunicativa, o que lhe dava a vantagem de perambular por diferentes grupos de amigos sem sofrer qualquer rejeição. Ademais, gostava de praticar natação, jogar xadrez e beber suco de graviola.

Laís também era uma garota típica de vinte e poucos anos. Minto! De típica Laís não tinha quase nada. A começar pela beleza. De tão bela, Laís chegava a ser uma afronta. Afronta à feiúra, afronta à inveja, afronta até mesmo a probabilidade em si porque era difícil dizer de quantos em quantos bilhões de anos um ser como esse estava apto a andar pela Terra. Além disso, não bastasse ser descomedidamente linda, Laís era a simpatia em pessoa. Seu sorriso, dizia-se, derretia geleiras. Mas isso era o que diziam e eu aposto que foi algum garoto de vinte e poucos anos que espalhou a falácia. De lado com as atipias, ela também era uma aluna entre o oito e o nove, de amigos verdadeiros e que, coincidência ou não, estudou num colégio católico, entrou na faculdade e et cetera. Laís e Joel estudavam no mesmo colégio e se conheceram há oito anos atrás. E foi aí que começou tudo. Ou nada, sei lá.

Joel e Laís se conheceram por intermédio de uma amiga da irmã de Laís, Frida - que, na verdade, chama-se Valéria. Frida estudava na mesma sala que Joel e Alfredo, seu melhor amigo, e que Júlia, irmã de Laís. Complicou um pouco, mas foi só pra dizer que, apesar de estudar com Júlia, que era irmã de Laís, Joel precisou da ajuda de Frida para conhecê-la. Além do mais, histórias de amor não são simples, com variáveis únicas e uma incógnita para achar. Isso ficava mais a cargo da matemática, conforme Joel, Alfredo, Frida e Júlia puderam atestar naquele final de manhã de quarta-feira, o mesmo final de manhã no qual Joel descobriu que Alfredo tinha uma queda por Laís.

Mas Laís sequer sabia quem era Alfredo ou Joel. Foi aí que Frida entrou, antecipando o acaso e colocando em posição estratégica o interessado e o objeto de interesse. Alfredo e Laís não combinavam tanto, é verdade, e Laís sabia disso. Sabia, inclusive, antes mesmo que Alfredo pudesse desconfiar. Por isso, o approach necessário para juntar os dois era uma tarefa hercúlea. Aí Alfredo, que não era nem besta nem desenrolado, pediu ajuda ao seu fiel camarada, Joel, que tinha a fama de desatravancar situações desse tipo com extrema facilidade e maestria. E Joel foi lá ter com Laís. Mas aí parece que a coisa começou a desandar de vez pra Alfredo. Laís e Joel pareciam se dar muito bem, bem até demais. Uma química boa, conversa doce, aquela coisa toda. E Laís já tinha percebido no ato, antes mesmo que Joel pudesse sequer desconfiar. E ele não desconfiou mesmo, uma vez que continuou a tentar ganhar a garota para o amigo. Mas dessa vez até Alfredo já tinha notado.

E foi aquele bafafá, né?! Alfredo chamou Joel pra conversa, colocou-o contra a parede, colocou o dedo no peito dele e quis saber o que ele andava fazendo. Joel colocou o dedo no peito de Alfredo e disse que ele estava - e depois daquele dedo no peito não sabia se estaria mais - tentando ganhar a garota para o amigo, ainda que sem muito sucesso, mas estava. Alfredo disse que não parecia, uma vez que Laís só perguntava por Joel, queria fazer natação e, agora, só pedia suco de graviola durante o intervalo. Aí Joel virou para Alfredo e disse que isso era coisa da cabeça dele, que num tinha nada a ver e que... "Sério?!", perguntou. Pronto. Agora Joel desconfiou. E não podia deixar passar o fato de que fazia pleno sentido. Mas ele garantiu - da boca pra fora, lógico - que não sentia nada por ela, que ela era intocável e que, por causa da crise, só tinha graviola na cantina do colégio. Aí Alfredo colocou a cabeça no capacete, subiu na moto e foi pra casa. Joel, cuja cabeça há muito já estava nas nuvens, desejou um suco de graviola naquele momento. Mas a crise tava foda: até a graviola tinha acabado.

Nas semanas que se seguiram Joel tentou, sem sucesso algum, mitigar o clima de novela mexicana que se instalara. Não podia ignorar os sentimentos de Alfredo, mas também não podia abrir mão da conversa-sempre-agradável com Laís. Laís, ao que parecia, ficava sempre eufórica em parte por causa do suco de graviola, que era realmente doce, e em parte pela capacidade de Joel de fazê-la rir. Alfredo, muito mais carrancudo e introspectivo, por vezes se via como mero espectador daquela conversinha, até julgar que aquilo bastava. Então ele mesmo foi lá, colocou Laís na parede e quando ia colocar o dedo no peito dela - não no peito em si, mas ali por perto do ombro e tal - ouviu dela o que ele devia ter se dado conta desde o dia que Frida os apresentou. Alfredo saiu com o coração na cueca, lógico, deixando o terreno aparentemente livre. Aparentemente. Embora Joel quisesse dar o passo adiante, Alfredo era seu amigo e a amizade não deixava que seus sentimentos fossem ignorados. E por conta disso o tempo passou, Laís foi cada vez mais pro seu lado, envolveu-se com outros garotos de vinte e poucos anos e et cetera. Joel idem. E assim foi sendo dia após dia.

(...)

Mas aí o acaso estuprou a probabilidade de novo. Muito tempo depois - oito anos, para ser mais preciso - sem nem sequer pensar no ocorrido, Joel, em uma saída das mais despretensiosas, encontra Laís. E, pasmem, ela estava ainda mais bela. Cabelos negros ali por L1-L2, sorriso típico. Laís era, à "primeira" vista, a mesma, já Joel... Não tardou para ele perceber que ele tinha virado um babaca na frente dela. Não sabia o que dizer, o que pensar. Nem conseguia direito fixar o olhar sem ficar, sei lá, com cara de vaso. Aperreio grande, grande mesmo. Cadê a lábia, Joel?

E a coisa foi tão grave, mas tão grave que Joel me procurou no outro dia. Vinha com aquele jeito sem-jeito de perguntar, mas, depois da pressão, mandei ele desembuchar. "Cara, o que eu faço?", ele perguntou. E agora, o que que ele faz? Alguém diga aí porque ele tá aqui do meu lado esperando uma resposta. E ainda por cima com aquela cara de babaca.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...