Acordou. Preparar-se-ia para mais um ritual que se seguia toda manhã: levantar, tomar banho, tomar café, colocar a roupa da escola, arrumar o material, entrar no carro, ir para a escola. Era sempre assim desde que começara a cursar a sexta série. Não que gostasse muito, pois acordar cedo era realmente um saco. Mas o que mais monotonizava o processo era o fato de sempre ser uma coisa maquinada, sem nenhuma novidade ou surpresa.
Naquele dia, porém, ao se dirigir para o carro, notou algo estranho. Numa das plantas de médio porte do jardim havia algo parecido com um ninho. Ao chegar mais próximo, ele comprovou que o era. Alguma ave, a princípio, teria feito daquela planta sua morada. Tamanha foi a sua surpresa quando, segundos depois, descobriu que aquele era o ninho de um beija-flor. Nunca havia visto um tão bonito e reluzente como aquele. Tentou pegá-lo, mas ele frustrou-lhe a tentativa. Ao chamado do seu pai, entrou no carro e foi para a escola. Passou a a manhã pensando se o pequeno colibri estaria lá quando retornasse.
Para sua surpresa ao retornar o ninho não só estava lá, como também estava a ave, pousada em toda a sua majestade. Sem pensar muito, o garoto tentou apanhá-lo mais uma vez, o que fez com que o pássaro voasse para longe. Entrou em casa para o almoço, planejando um modo mais furtivo de apanhar o fujão. Após a refeição, retornou ao jardim e ficou contemplando o pássaro em todo o seu esplendor. Não conseguia pensar em nada que pudesse torna aquele beija-flor captivo. Vez por outra, ele voava pelas flores próximas, pairando no ar como se houvesse um fio invisível sustentando-o do céu. Ao fim da tarde, o colibri ainda estava livre e o garoto, inquieto.
Durante várias semanas, esse evento se repetiu. Entretanto, apesar de aparentemente monótono, o tempo dispendido em pensar numa forma de capturar o animal instigara o garoto a retornar dia após dia. Tentou algumas maneiras pouco efetivas, que quase sempre resultavam em fuga da ave e resignação do menino. Teve até uma vez na qual o pássaro demorou quase um dia inteiro para retornar. Mas o garoto parecia gostar daquilo. Passava as tardes sempre lá, na esperança de que o pássaro fosse seu.
Depois de muito tempo sem sucesso, numa manhã morosa, o garoto já sem grande interesse percebeu que o ninho do beija-flor não estava mais lá. Na verdade, uma torrente chuvosa ocorrida na madrugada daquele dia havia destruído a frágil morada. De imediato, o menino começou a procurar o pássaro pelas redondezas. E viu. Estava parado, em plena desolação, debaixo de uma frondosa folha de uma árvore de maior porte na proximidade. Aproximou-se lentamente a fim de não espantar o desabrigado. E então aconteceu: o beija-flor levantou vôo e veio ter no ombro do menino. Despojada e cuidadosamente, o garoto o pegou entre os dedos, tendo cuidado para não machucá-lo. O pequeno beija-flor tinha um ar de desamparo e isso logo comoveu o menino. Naquela mesma tarde, o garoto levou a ave para uma praça próxima e alocou-o no oco de um imenso baobá. Ali o pássaro sentiu-se em casa. Todo dia, após voltar da aula, o menino ia à praça ver o beija-flor. E o beija-flor estava sempre voando, feliz. O menino jurava que, por vezes, se ele pudesse falar, agradeceria-o por tudo. Para o menino, o fato de ter conquistado aquela coisinha pequena e frágil já tinha valido tudo.
Um dia o beija-flor foi embora, é verdade. Mas mesmo assim o garoto continuava a ir à praça todo santo dia. "Ele não pode ter ido muito longe", ele dizia. "Colibris nunca vão embora... Colibris nunca abandonam sua violetas...". E ele estava certo. Por Deus, como estava certo.
Post Scriptum: Nunca abandonam suas violetas.
Naquele dia, porém, ao se dirigir para o carro, notou algo estranho. Numa das plantas de médio porte do jardim havia algo parecido com um ninho. Ao chegar mais próximo, ele comprovou que o era. Alguma ave, a princípio, teria feito daquela planta sua morada. Tamanha foi a sua surpresa quando, segundos depois, descobriu que aquele era o ninho de um beija-flor. Nunca havia visto um tão bonito e reluzente como aquele. Tentou pegá-lo, mas ele frustrou-lhe a tentativa. Ao chamado do seu pai, entrou no carro e foi para a escola. Passou a a manhã pensando se o pequeno colibri estaria lá quando retornasse.
Para sua surpresa ao retornar o ninho não só estava lá, como também estava a ave, pousada em toda a sua majestade. Sem pensar muito, o garoto tentou apanhá-lo mais uma vez, o que fez com que o pássaro voasse para longe. Entrou em casa para o almoço, planejando um modo mais furtivo de apanhar o fujão. Após a refeição, retornou ao jardim e ficou contemplando o pássaro em todo o seu esplendor. Não conseguia pensar em nada que pudesse torna aquele beija-flor captivo. Vez por outra, ele voava pelas flores próximas, pairando no ar como se houvesse um fio invisível sustentando-o do céu. Ao fim da tarde, o colibri ainda estava livre e o garoto, inquieto.
Durante várias semanas, esse evento se repetiu. Entretanto, apesar de aparentemente monótono, o tempo dispendido em pensar numa forma de capturar o animal instigara o garoto a retornar dia após dia. Tentou algumas maneiras pouco efetivas, que quase sempre resultavam em fuga da ave e resignação do menino. Teve até uma vez na qual o pássaro demorou quase um dia inteiro para retornar. Mas o garoto parecia gostar daquilo. Passava as tardes sempre lá, na esperança de que o pássaro fosse seu.
Depois de muito tempo sem sucesso, numa manhã morosa, o garoto já sem grande interesse percebeu que o ninho do beija-flor não estava mais lá. Na verdade, uma torrente chuvosa ocorrida na madrugada daquele dia havia destruído a frágil morada. De imediato, o menino começou a procurar o pássaro pelas redondezas. E viu. Estava parado, em plena desolação, debaixo de uma frondosa folha de uma árvore de maior porte na proximidade. Aproximou-se lentamente a fim de não espantar o desabrigado. E então aconteceu: o beija-flor levantou vôo e veio ter no ombro do menino. Despojada e cuidadosamente, o garoto o pegou entre os dedos, tendo cuidado para não machucá-lo. O pequeno beija-flor tinha um ar de desamparo e isso logo comoveu o menino. Naquela mesma tarde, o garoto levou a ave para uma praça próxima e alocou-o no oco de um imenso baobá. Ali o pássaro sentiu-se em casa. Todo dia, após voltar da aula, o menino ia à praça ver o beija-flor. E o beija-flor estava sempre voando, feliz. O menino jurava que, por vezes, se ele pudesse falar, agradeceria-o por tudo. Para o menino, o fato de ter conquistado aquela coisinha pequena e frágil já tinha valido tudo.
Um dia o beija-flor foi embora, é verdade. Mas mesmo assim o garoto continuava a ir à praça todo santo dia. "Ele não pode ter ido muito longe", ele dizia. "Colibris nunca vão embora... Colibris nunca abandonam sua violetas...". E ele estava certo. Por Deus, como estava certo.
Post Scriptum: Nunca abandonam suas violetas.