Sêu Fulano-de-tal era uma morador de rua. Desde de pequenininho, na verdade. Não se lembra ao certo de ter tido mãe, pai ou algo do gênero. Nunca foi de ter muitas companhias, mas não por vontade própria. Simplesmente não tinha com quem compartilhar o muito tempo livre que lhe sobrava no dia-a-dia. Dormia há muito sobre um tênue pedaço de papelão em frente a um ateliê de pintura muito badalado. Seu proprietário era um senhor com uma certa idade, que passava o dia a compor quadros maravilhosos a pedido dos seu clientes. Sêu Fulano olhava tudo pela enorme janela de vidro que havia em frente ao estabelecimento.
Certo dia, Sêu Fulano se deu conta que o pintor, antes de fechar seu negócio, colocou pra fora da loja uma caixa. Teve curiosidade de xeretar a caixa e, para sua surpresa, descobriu pincéis, aquarelas, restos de tinta não usados e uma infinidade de coisas que o pintor com certeza usava na sua labuta diária. Tomando-os por lixo, pegou-os para si. E passou a observar o pintor mais avidamente daí em diante, na esperança de poder criar pinturas tão belas quanto as dele. Dia após dia ele "treinava" no muro de um beco nas proximidades. Sem muito contentamento com o seu desempenho, Sêu Fulano estava sempre começando do zero de novo, e de novo, e de novo. Não desistiria até ter sua própria "Monalisa". Passava as horas do dia observando e as horas da madrugada pintando. Dormia pouco e isso sequer o afetava. A pintura o apaixonava cada vez mais a cada dia.
Certo dia, Sêu Fulano se deu conta que o pintor, antes de fechar seu negócio, colocou pra fora da loja uma caixa. Teve curiosidade de xeretar a caixa e, para sua surpresa, descobriu pincéis, aquarelas, restos de tinta não usados e uma infinidade de coisas que o pintor com certeza usava na sua labuta diária. Tomando-os por lixo, pegou-os para si. E passou a observar o pintor mais avidamente daí em diante, na esperança de poder criar pinturas tão belas quanto as dele. Dia após dia ele "treinava" no muro de um beco nas proximidades. Sem muito contentamento com o seu desempenho, Sêu Fulano estava sempre começando do zero de novo, e de novo, e de novo. Não desistiria até ter sua própria "Monalisa". Passava as horas do dia observando e as horas da madrugada pintando. Dormia pouco e isso sequer o afetava. A pintura o apaixonava cada vez mais a cada dia.
Com o tempo, ele foi pegando o jeito, aprendendo alguns efeitos e técnicas por si só. Começou a se arriscar a pintar coisas belas em muros um tanto quanto feios. Quando a noite caía e as pessoas repousavam em sua camas quentinhas, ele saía a procura da tela que lhe serviria por aquela noite, mesmo correndo o risco de ser tomado de assalto por algum bandido ou policial mal-intencionado. Com o amanhecer do dia, as pessoas passaram a admirar pinturas "que apareciam do nada", que davam um ar de natureza a um ambiente que só conhecia correria e poluição. Mas Sêu Fulano permanecia no anonimato.
Certo dia, o pintor esqueceu a chave de sua casa dentro da loja e teve que voltar para buscá-la. Lá chegando, deparou-se com um homem que pintava o muro ao lado de sua loja em plena escuridão. Intrigado com aquilo, com a qualidade da pintura, o pintor desceu do carro e aproximou-se do homem.
- O que faz aqui a essa hora, amigo? Não acha que é meio tarde para pintar?
- Eu moro aqui, senhor. E gosto de pintar a essa hora... é mais calmo e não há tanta gente olhando.
Apesar de morar ali há muito, era a primeira vez que o pintor via Sêu Fulano. Tudo aquilo o deixou curioso - a pintura, o papelão, as tintas. Durante a madrugada eles conversaram sobre várias coisas. O pintor descobiu de onde viera o material de pintura, bem como a inspiração de Sêu Fulano. Achou aquilo tudo muito interessante, mais ainda quando Sêu Fulano fez uma revelação:
- Eu tenho muita vontade de pintar uma tela sobre uma praia. Adoraria ter meu próprio horizonte, minha própria areia branca, ondas, sol a pino...
- E por que não o faz? Não te falta mais nada.
- Eu nunca estive numa praia, senhor. Não sei ao certo como é.
Na manhã seguinte, após concluir a pintura que havia começado - que era sobre um pássaro que fizera um ninho num poste na mesma rua - o pintor levou Sêu Fulano à praia mais famosa da cidade, antes mesmo do sol despontar no longínqüo horizonte. Não havia ninguém à exceção dos dois. Durante os minutos que o nascer-do-sol procedeu, o tempo do Sêu Fulano parou. Não piscou com medo de corromper a imagem que se depositava na sua mente e no seu coração. Nunca havia visto algo tão bonito. Na verdade, nem sabia se "bonito" era suficiente para descrever aquilo tudo. Pediu permissão ao pintor para ficar ali mais um pouco quanto o artista precisou ir embora. Contemplou o máximo que pôde de tudo. E voltou no fim da tarde contando cada passo.
Na manhã seguinte, o pintor surpreendeu-se ao ver que o muro exatamente em frente à sua loja fora decorado. Era algo belíssimo, questionando-se se sua capacidade e habilidade poderiam produzir aquilo. Procurou Sêu Fulano mas não o encontrou. No lugar onde ele dormia havia apenas um pequeno pedaço de papelão com algo escrito em letra sofrida e disforme, mas ainda legível.
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Em todos esses anos que eu morei aqui, sempre admirei o que o senhor fazia com as mãos. Passava meus dias imaginando se um dia eu seria como o senhor. Encontrei nas tintas um motivo a mais para seguir em frente. E sempre tive vontade de pedir ao senhor para me mostrar como era o horizonte, mesmo que fosse em um de seus quadros.
Agora eu sei como é. Agora eu sei.
Agora eu sei como é. Agora eu sei.
Obrigado
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Na mesma hora um cliente vinha chegando à loja.
- Nem reparei que o senhor tinha decorado o muro em frente, Osvaldo. Ficou muito bonito mesmo. Quero um igual para mim... Pode ser?
- Nem reparei que o senhor tinha decorado o muro em frente, Osvaldo. Ficou muito bonito mesmo. Quero um igual para mim... Pode ser?
Rindo, Sêu Osvaldo, o pintor, respondeu:
- Não, meu caro, não pode. Eu nunca conseguiria. Nunca...