sábado, 1 de novembro de 2008

O Brasil precisa é de educação

Isso mesmo: educação. Somos o país do futebol, do samba, da feijoada, do carnaval, das praias, das bundas, das mulatas e das proporções continentais, mas também um país repleto de pessoas mal-educadas em demasia. E não me refiro apenas aos elevados e cada vez mais crescentes índices de analfabetismo. Tem muito Ph.D por aí extremamente mal-educado e isso é um problema muito, mas muito preocupante. Tal defasagem educacional relaciona-se intimamente com grandes problemas tidos como de "terceiro mundo", como as desigualdades sociais, a corrupção, a violência e uma série de outros tão maciçamente divulgados mídia afora. Mas nós não ligamos muito pra isso, né?! Não fomos educados para tal, é verdade.

E começando pelo básico percebemos de cara a roubada na qual nos metemos. Dentre os países da América Latina, segundo dados do IBGE, o Brasil possui o segundo maior índice de analfabetismo (11,1%), estando atrás apenas da Bolívia, que possui um índice de 11,7%. E olhe que não é uma distância lá tão grande. Outro dado interessante é que países como Equador, Chile e Paraguai possuem índices bem mais aceitáveis (7,0%, 3,5% e 5,6%, respectivamente), muito embora não tenham lá toda essa imponência aos olhos do mundo. Esse fenômeno reflete perfeitamente toda a alienação que a falta de julgamento e de um senso crítico, proporcionados por processo educacional sólido, podem acarretar. Considerando a realidade dos nossos governantes, por exemplo, pode-se até considerar isso como aceitável: tão mais fácil será enganar um povo quanto mais ignorante ele for. E isto é algo que a galera da política sabe de cor.

Além disso, criancinha que não vai à escola acaba sendo vítima do próprio destino. Integrante de família humilde na grande maioria, as crianças que abandonam a escola terminam por ter que integrar a renda de casa de alguma maneira, tornando-se escravas do trabalho infantil e da marginalidade. Aí vem os problemas com drogas, tráfico, criminalidade. Sobrevivendo a tudo isso, o adulto no qual essa criança se torna coloca mais criancinhas no mundo que terão destino similar ao seu, perpetuando o problema e fechando o ciclo. Enquanto isso, sobram cadeiras vazias nas salas de aula e professores ensinando para as paredes, literalmente.

Ainda, como dito anteriormente, o problema com o ensino não é o único que preocupa. A esmagadora maioria dos brasileiros são pessoas de péssima educação. E nem precisa argumentar muito, basta dizer algo simples. Por exemplo, ninguém mais respeita os idosos. Ninguém levanta no ônibus pra dar lugar a uma pessoa que provavelmente sofre de reumatismo e osteoporose. Quase não se ouve mais "por favor", "obrigado", "licença". Estamos declaradamente na era da abolição dos favores gratuitos, aqueles que a Igreja se refere na máxima "fazer o bem sem olhar a quem". Importamo-nos mais com furar a fila ao invés de dar a vez e nos orgulhamos de se referir a isso como "o jeitinho brasileiro". Vê? É tão nosso que já damos até nome carinhoso, fazendo questão de atestar a posse. "Brasileiro".

Isso sem falar no trânsito, que é o local onde a falta de educação mais aflora e impera. Ninguém dá a vez, ninguém deixa o outro passar, ninguém sabe usar a buzina com parcimônia. Todo mundo quer chegar primeiro e achar que, para isso, pode ser o dono da rua. Pedestre que se foda, juntamente com as velhinhas que tentam atravessar na faixa, os cegos, os deficientes e todos aqueles que carecem de seus próprios direitos enquanto cidadão. Porque o bacana mesmo é encher a cara até a tampa de cerveja, pegar o carro, matar três numa parada de ônibus e não ir pra cadeia porque painho é desembargador e não deu a educação que devia ter dado. Isso porque nem é bom falar sobre o desprezo sofrido por quem trabalha honestamente, tem que agüentar tudo pra poder colocar comida em casa e, de sorte (ou azar, sei lá), sempre acaba sendo atropelado por um bêbado quando está na parada esperando o ônibus para ir trabalhar.

Mas não tem que ser sempre assim. Talvez se fôssemos um pouco menos oligofrênicos e saíssemos no meio da rua quebrando o maior pau a coisa mudasse um pouco de cenário. Enquanto esse dia lindo não chega, podemos ir conduzindo nossas próprias revoluções particulares. Podemos lutar por um país melhor sim e não ficar só reclamando e dizendo que tá tudo uma merda sem fazer nada. O analfabetismo é um problema que está um pouco acima de nós e não é provável que "escolher seus líderes conscientemente" vá resolver alguma coisa. Temos mais é que brigar pra que o negócio funcione ao nosso modo, estimulando a educação dos pequenos, disseminando a leitura ao quer que se vá, a boa arte, a música, poesia e qualquer coisa que não nos transforme em marionetes. Isso já é um começo. Quanto a o outro problema da educação, esse sim cabe a nós mudar. E a mudança pode começar dentro de cada um, por mais que só você esteja aparentemente se esforçando, o que provavelmente ocorrerá. Tem que dar a vez a todo mundo, principalmente aos rapazes e garotas da terceira idade, tem que parar de gritar, de furar a fila, de querer "dar o migué". Isso sem esquecer de pedir licença, agradecer, pedir por favor e "dar mais do que receber", como já dizia o grande poeta e letrista Pe. Marcelo Rossi.

E não se bitole: um palavrãozinho de vez em quando num faz mal a ninguém.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...