- Olá! Tudo bem com você?
- Tudo! (balançando a cabeça positivamente).
- Como é o seu nome?
- Iana.
- Que nome bonito, o seu! Quantos anos você tem, Iana?
(mostra a mão com quatro dedos)
- Tá com vergonha da gente?
(balança a cabeça positivamente de novo)
- Mas num fique não. Hoje a gente vai brincar com você. Você quer brincar com a gente?
- Quero.
- Pois pronto. Ó, meu nome é Yuri, esse aqui é tio Léo e esse outro, tio Hugo. Quer uma massinha?
(estende a mão pra pegar a massinha)
As brincadeiras foram continuando até o ponto onde foram feitas uma série de perguntas.
- Iana, você sabe o que são as nuvens?
- As nuvens é quando a chuva se junta com o sol. Aí forma as nuvens.
- Hum. E você sabe de onde vem a chuva?
- Vem das nuvens, ué.
- Sei, sei. Mas e o sol? Como é o sol?
- Redondo. E amarelo. E fica lá no céu, junto com as nuvens.
- Eita! Mas como você sabe disso?
- Porque eu já vi, ué.
- Ah! Então quer dizer que o sol e as nuvens moram no céu, é isso?
- É.
- Hum. Mas esse céu que você diz, ele fica aonde mesmo?
(apontou o dedo pro alto)
- Osh. O céu fica no teto da sala?
- Não... (rindo timidamente). O céu fica lá em cima, lá longe. É aquela coisa azul lá em cima.
- Azul? Mas por que azul?
- Er... er... É porque é. Eu vi.
- Hum. E você sabe como os passarinhos voam?
- Batendo as asas assim: (balança os braços como asas batendo).
- Eita! E você sabe voar também, é?
- Nãããããããooooooooo! (rindo espalhafatosamente).
- Ah, pensei que soubesse. Mas e quando fica escuro, à noite, pra onde vai o sol?
- Ele se esconde por detrás das nuvens.
- Ah, então é por isso! Danado! Mas me diga outra coisa, Iana: de onde vêm os bebês, você sabe?
Breve pausa.
- Vêm do céu, ué.
- Osh. E eles caem do céu assim, de repente?
- Nãããooooo! Eles vêm de pára-quedas.
- Aaaaahhhhhh! Mas esses pára-quedas, onde eles conseguem?
- Deus que dá pra eles. Deus faz os bebês e manda eles de pára-quedas pra cair na barriga da mãe.
- Hum. E foi assim que você veio pra barriga da sua mãe?
- Hum-rum (balança a cabeça positivamente).
- Sei. Mas eu não vim de pára-quedas, não. Eu entrei na barriga da minha mãe escorregando por um tobogã, lá do céu.
(cara de espanto e vontade de rir)
- Você já viu esse tobogã?
- Não.
- Pois depois eu te mostro. Quer dizer mais alguma coisa?
(balança a cabeça negativamente)
- Num quer nem contar uma piada?
(balança a cabeça negativamente de novo)
- Você sabe a piada do pinto, Iana?
- Não.
- É, nem eu. Quer fazer um desenho? Chegue, tome esse lápis.
(desenha algo no verso do papel)
- Eita! Que desenho bonito. Quem é esse?
(aponta pra Hugo)
- E esse?
(aponta pra Léo)
- E esse?
(aponta pra mim)
- E essa deve ser você, né?
- É.
- Hum. Agora assine aqui. Coloque seu nome pra gente saber que foi você que desenhou.
(assina o nome)
- Eita. "Iana Diógenes..." de quê?
- Iana Diógenes de Azevedo Brito.
- Aaaahhhhhh. Muito bem. Ficou realmente muito bom, seu desenho. Agora vamos que tá na hora de voltar pra salinha, tá bom?
(balança a cabeça positivamente)
E ela voltou pra sala.
Post Scriptum 1: Iana era uma garotinha de quatro anos, moreninha, com cara de índia e um tanto tímida.
Post Scriptum 2: Custava nada dizer a verdade sobre a origem dos bebês?
Post Scriptum 3: Quando acabou, a professora ainda veio me dizer que Iana tinha dito que o tio grandão era o mais bonito.