quarta-feira, 30 de abril de 2008

Super-poder: poesia

"Poesia, sim, é coisa nobre", já dizia o poeta não tão poeta assim. Nobre a ponto de ter um dia somente dela. Nobre a ponto de enobrecer tudo aquilo que toca. Nobre a ponto de, agora, ter um post só pra ela. Nobre, cobre (ói, poetizei). Poesia é algo que se faz sem perceber, todo dia, toda hora, em todo e qualquer lugar ou momento. Não requer tanta prática ou experiência, mas muita abstração. Talvez um pouco de divagação, outro tanto de imaginação, uma pitada de paixão. É na poesia que se tem, de todo o sentimentalismo, a sua comunhão (ói, de novo). Enfim, como diria meu grande amigo Zula, ser poeta é um estado de espírito: é ver aquilo que outros não vêem, com olhos que outros não sentem. E pense num cara poeta, é esse Zulu.

E desmistificando todo esse alvoroço que se faz usualmente em torno desse tão nobre ramo da cultura popular, digo-lhes que qualquer um pode ser poeta. E famoso, diga de passagem. Basta deixar que a coisa flua, saca? Não precisa sair por aí fazendo rima peba com tudo, não. Isso não é poetizar. Disco arranhado também faz rima que é uma beleza, tal qual aquele papagaio do vizinho. Primeiro de tudo, seja um leitor ávido, daqueles que lêem até bula de remédio e verso de shampoo. E tenha um bom dicionário por perto, daqueles com milhões de verbetes. A leitura te dará bom fundamento e conhecimento de mundo, alicercers básicos pra uma boa poesia; o dicionário te transformará em uma enciclopédia ambulante. Ah! E tenha exímio domínio da língua que falas, ou seja, o português. Em certas ocasiões, a pontuação no lugar certo faz milagres poéticos. (nota do autor: caso você prefira poetizar em outra língua, como o inglês, você é um bosta). Paixões inacessíveis são completamentes preteríveis.

Lembre também que poetizar não é, necessariamente, escrever difícil e rebuscadamente. Deixe essa coisa parnasiana pra lá. Quem muito fala, pouco diz (ói, ói). Quem escreve usando palavras de outro mundo geralmente quer esconder uma homossexualidade enrustida e frustrada. Sem falar que palavras como "beligerância", "grandiloqüência", "edícula", "rubincudo", "fleumático", "célere", "taciturno", "belicoso", "zíngaro", "volição", "succínico", "exostose" ou "apartamento" são muito difíceis de serem escritas e só servem pra demonstrar um vocabulário semi-intelectual. Por que dizer "ser integrante da ordem lepdoptera" quando "borboleta" é suficiente? Ou mesmo "precipitação resultante da saturação aquosa das nuvens da troposfera" ao invés de "chuva"? Quer coisa mais poética do que dizer "chuva"?! Chega a ser sonoro, ó: "fazer chover..." Chover, chover... [BUM! Shiiiiii! Chuáááááá! (barulho de chuva, digo, onomatopéia)]. Viu? Poesia, rapaz.

Por fim, perca essa bitola de que poesia é somente aquilo que se lê. Na verdade, as poesias escritas estão entre as mais pebas já feitas por aí. São boas, mas pebas. Claro que eu não vou chegar aqui e dizer que Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Vinícius de Morais, Mário Quintana, Cecília Meireles, Machado de Assis, Clarice Linspector, Álvares de Azevedo, Ariano Suassuna ou Yuri Andrews são todos energúmenos. Não, não. Eles são aqueles que nós, pobres mortais, contemplamos no pedestal da genialidade e imortalidade, e pedimos auxílio quando empancamos no final daquele verso. Mas se você não é cego ou surdo e não vive enclausurado dentro da própria casa e mente, já deve ter percebido que a sua volta acontecem milhões de coisas diariamente, cada uma delas uma poesia no seu jeito de ser. E todas elas, todas, já foram fonte de inspiração pra alguma poesia escrita famosa que você conhece. Eu aposto. Desde aquele sol que nasce até aquela paixão platônica pela mulher onírica e etérea do mundo dos sonhos. Logo, não se preocupe em escrever demais. Quando você poetizar o mundo, terá muito o que colocar no papel, coisa que deve ocorrer lá pro fim da sua vida. No mais, não seja alegre nem triste: seja poeta.








Post Scriptum: Por fim, uma poesia pra todos vocês, uma das melhores que eu já vi:



Isso, sim, é coisa nobre.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...