Não consigo mais levantar depois das oito. Não consigo mais andar vagarosa e despretensiosamente até a cozinha, pegar um fruta na geladeira e comer enquanto vejo o noticiário da manhã. Não há muito tempo, na verdade. Recebo notícias constantemente durante o dia e não dá sequer para fazer um juízo crítico a respeito. Não sou indiferente - o problema é que não há tempo hábil para que se fique feliz ou triste com o que acontece, seja coisa boa ou ruim. Você olhando de fora vai dizer logo que eu endureci, que fiquei sisudo, tenaz. Não se engane.
Tempo faz também que não sento à beira da janela e disponho-me a pensar no nada, praticando o outrora rotineiro ócio produtivo. Ócio? Não, não há tempo. Ócio é algo para quem tem um dia com mais de quarenta e oito horas, para quem escreve o nome sem abreviaturas e para quem lê revista no banheiro. Ócio é para quem tem tempo e dinheiro. Eu, infelizmente, não tenho nenhum dos dois.
Mas começo a suspeitar que isso tudo começou quando eu comprei o primeiro creme de barbear, tirei a carteira de motorista e passei a lavar minhas próprias cuecas. Mamãe disse uma vez que era porque eu estava "ficando grande", mas eu acho que é porque não estou mais tendo tempo.
Tempo faz também que não sento à beira da janela e disponho-me a pensar no nada, praticando o outrora rotineiro ócio produtivo. Ócio? Não, não há tempo. Ócio é algo para quem tem um dia com mais de quarenta e oito horas, para quem escreve o nome sem abreviaturas e para quem lê revista no banheiro. Ócio é para quem tem tempo e dinheiro. Eu, infelizmente, não tenho nenhum dos dois.
Mas começo a suspeitar que isso tudo começou quando eu comprei o primeiro creme de barbear, tirei a carteira de motorista e passei a lavar minhas próprias cuecas. Mamãe disse uma vez que era porque eu estava "ficando grande", mas eu acho que é porque não estou mais tendo tempo.