quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tempo

Não consigo mais levantar depois das oito. Não consigo mais andar vagarosa e despretensiosamente até a cozinha, pegar um fruta na geladeira e comer enquanto vejo o noticiário da manhã. Não há muito tempo, na verdade. Recebo notícias constantemente durante o dia e não dá sequer para fazer um juízo crítico a respeito. Não sou indiferente - o problema é que não há tempo hábil para que se fique feliz ou triste com o que acontece, seja coisa boa ou ruim. Você olhando de fora vai dizer logo que eu endureci, que fiquei sisudo, tenaz. Não se engane.

Tempo faz também que não sento à beira da janela e disponho-me a pensar no nada, praticando o outrora rotineiro ócio produtivo. Ócio? Não, não há tempo. Ócio é algo para quem tem um dia com mais de quarenta e oito horas, para quem escreve o nome sem abreviaturas e para quem lê revista no banheiro. Ócio é para quem tem tempo e dinheiro. Eu, infelizmente, não tenho nenhum dos dois.

Mas começo a suspeitar que isso tudo começou quando eu comprei o primeiro creme de barbear, tirei a carteira de motorista e passei a lavar minhas próprias cuecas. Mamãe disse uma vez que era porque eu estava "ficando grande", mas eu acho que é porque não estou mais tendo tempo.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...