quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pedra mole

Era uma garota amargurada com a vida. Não que faltasse motivos para viver, mas ela era uma pessoa descrente. Descrente das pessoas e, pelo rumo que a conversa parecia por vezes tomar, descrente de si. Também pudera... Depois de tanta mentira, desilusão, pé-na-bunda e testa-na-parede tudo que a restou foi um coração esfacelado. Coração esse que, segunda a própria, foi reconstruído - a muito custo - com cimento e concreto, a fim de ficar duro, resistente e impenetrável.

Escutava isso tudo com uma grande sensação de desperdício. Afinal, ela era uma garota formidável. E cada vez que a conversa se aprofundava eu ia percebendo o quão doente era aquela "pedra" que ela levava dentro do peito. Os desapontamentos pareciam insuportáveis e ela nem queria saber de perdão. Pra ninguém. Então, aproveitando uma das poucas brechas que tive, tentei argumentar em favor da diplomacia. Falei que ela deixasse isso tudo pra lá, que tirasse as lições, que encarasse como aprendizado e que esquecesse de vez esse ex-namorado. Esses são os tipos de coisa aos quais todo mundo está sujeito. Ela não era nenhuma exclusividade.

Mal ia dizendo a última sílaba e ela já retornara o discurso inflamado. Eu fiquei observando toda aquela agitação psicomotora e juro que quase desisti quando ela falou "vingança". Quase...

- Vingaça? - indaguei.

- Sim! Vou me vingar de todo mundo... - atestou.

- E como você pretende fazer isso? - perguntei, sem saber ao certo se queria mesmo ouvir a resposta.

- Sendo feliz. Não existe nada que tire mais as pessoas do sério do que ver alguém feliz.




Ufa.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...