segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Empurrãozinho

Fingia que era médico na cara-de-pau mesmo. Mentia, mas mentia com fervor de modo a não deixar margem para desconfianças. Tampouco simpatizava com a arte da cura - na verdade, sempre achei aquilo tudo uma grande enrolação -, mas precisava desse "disfarce" para colocar em prática meu plano.

E, assim, as pessoas começaram a vir. E reclamavam de tudo: farnizim, ânsia de morte, passamento, sistema nervoso, garganta, cobreiro, maleita, impingem, peito gordo, bexiga baixa, esquecimento, amarelão, chiado, perna fraca, bicho-geográfico e vontade-de-sei-lá. E tinha mais, bem mais. Sempre tem. E para todas eu dava seis meses de vida indiscriminadamente. Seis meses porque achei um tempo mais que justo e suficiente. Seis meses porque não é tão pouco quanto um mês nem tanto quanto um ano. Sei meses. Contados. E não vou dizer que elas saíam felizes. O choque, na verdade, era a primeira sensação, acompanhada de perto por um intenso sentimento de negação. Mas assim elas iam.

E sabe o que foi o melhor de tudo? Ver todas aquelas pessoas, de repente, realizando seus mais queridos e preciosos sonhos.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...