Dei todos os meus sapatos. Os novos, os velhos, os bons, os mais-ou-menos... Dei, mas foi sem nenhum remorso. Dei também minhas roupas, todas. Até as cuecas foram embora, junto com todas as lembranças que elas instilavam. Doei meu relógio, minhas fitinhas do Senhor do Bonfim, meus bonés. Tudo que era adereço se foi. Dei. Arranquei a corrente de ouro malhado e o par de brincos e dei. Dei os lençóis da cama, as toalhas de banho e de mesa e até mesmo os papeis de toalha. Doei tudo.
Agora que eu estou nu, descalço, sem mandinga de santo ou do tempo e sem ouro ou prata pra escambear, hei de ficar mais leve. Tô lavando a preguiça e a vergonha-da-cara. Tô pintando a cara como quem se apronta pra ir pra guerra. Tô leve feito pluma e firme feito bambu.
Tô leve. Agora é só esperar uma boa brisa e deixar que o céu venha até mim... de novo.
Agora que eu estou nu, descalço, sem mandinga de santo ou do tempo e sem ouro ou prata pra escambear, hei de ficar mais leve. Tô lavando a preguiça e a vergonha-da-cara. Tô pintando a cara como quem se apronta pra ir pra guerra. Tô leve feito pluma e firme feito bambu.
Tô leve. Agora é só esperar uma boa brisa e deixar que o céu venha até mim... de novo.