segunda-feira, 29 de junho de 2009

Super-poder: voar

O que? Impossível?
Pois eu fui lá e tirei uma foto só pra provar que não.


Nunca.











E nem tava tão frio.








Post Scriptum: Esse é o super-poder mais bacana de todos os tempos.


sábado, 13 de junho de 2009

Vida louca, vida

Vida: t'aí uma coisinha difícil de se definir. Filosoficamente, está no mesmo patamar de "tempo", de "amor", de "fé", que são aquelas coisas que todo mundo conhece, sabe o que é, mas é incapaz de definir precisamente. Ninguém sai por aí dizendo que tempo é isso, que amor é aquilo e que ter fé é ser assim ou assado. Nenhuma das definições vinculadas por aí, inclusive aquelas de dicionário, são satisfatórias. O Larousse, um dicionário que eu uso desde a quarta série, tem a ousadia de dizer que vida é uma característica própria aos seres vivos que possuem estruturas complexas, capazes de resistir a diversas modificações, aptos a renovar, por assimilação, seus elementos constitutivos, a crescer e a se reproduzir. Pfu!, grande pebice. Quer dizer, então, que seres que não possuem estruturas complexas, como vírus ou anêmonas, não possuem vida? É isso? Porque se for, eu rebaixo esse dicionário a peso de papel agora mesmo.

Mas a complicação não pára por aí. Viver, coisa que as pedras não fazem e as árvores fazem pela metade, é um privilégio de poucas entidades nessa imensidão de universo. E, realmente, quanto mais complexo o ser, mais cheia de atribulações é a sua vida. Nós seres humanos, por exemplo, vivemos o suficiente para descobrir que, embora finita, uma vida só às vezes não é o bastante. Talvez tenha sido baseado nessa frustração que um rapaz chamado Alan Kardec criou, há um bom tempo atrás, uma doutrina chamada espiritismo, que fala sobre outras vidas além desta atual. Ele devia ser muito puto com esse negócio de uma vida insuficiente e saiu por aí dizendo essas coisas. Ou não. Vai ver que isso foi só coincidência mesmo.

A questão é que o ato de viver nos causa uma vã ilusão. Nosso tempo passa de modo cíclico, sempre repetitivo. Vivemos um segundo agora, em seguida outro segundo. E depois já se foi um minuto, e outro minuto, uma hora, um dia. É tudo cíclico: as 12h do dia de hoje serão iguais às 12h do dia de amanhã e de depois de amanhã, até o fim dos tempos. Dias passam para que possamos viver os meses, um de cada vez. Do mesmo modo, os meses se somam para que os anos nos passem sempre da mesma forma, à sua maneira. Verão, Carnaval, Páscoa, férias, volta às aulas, provas, Natal, ano novo e assim por diante. Temos tudo para acreditar que a vida é um tremendo marasmo, altamente entediante, que não tem outro objetivo que não o de ser repetir nela mesma. Mas como já disse algum filósofo no passado, um rio nunca passa duas vezes no mesmo lugar, o que quer que isso signifique.

E nessa hora a ilusão de desfaz. Damo-nos conta, por exemplo, de que o nosso aniversário de hoje - aniversário porque é a data que, talvez, mais nos interesse em termos de significância - é totalmente diferente daquele comemorado ano passado. Entre o de hoje e o do ano passado, há uma latência temporal de trezentos e sessenta e cinco dias. Portanto, nesse meio tempo, tivemos, no mínimo, trezentos e sessenta e cinco oportunidades de tomarmos outro caminho ou, ainda, de permanecermos no mesmo caminho de sempre. Foram, logo, trezentos e sessenta e cinco escolhas e, depois de tantas, seria muita audácia dizer que ainda somos os mesmos. É só pensar um pouco nos seus interesses de dez anos atrás e nos de agora e ver que são pessoas completamente distintas.

Entretanto, mesmo fazendo todo esse raciocínio, não é possível dizer de modo acurado o que é vida. É fácil perceber, contudo, que mesmo com as coisas aparentemente se repetindo, elas nunca se repetem da mesma maneira. Amizades, conquistas, pendegas, amores, dificuldades, tudo acontece à sua maneira. E talvez seja isso que deixe a vida tão interessante. Chegar lá na frente, no "fim" de tudo e ver que os dias passaram da mesma forma, com suas manhãs, tardes e noites, mas foram vividos de forma totalmente ímpar. Um dia após o outro. E depois outro e outro. E ter certeza que, embora a gente não faça a mínima idéia do que a vida seja, ela valeu totalmente a pena.

E depois de tudo, eu pergunto: se não fosse assim, se a vida não fosse finita, se fôssemos verdadeiramente imortais, como você acha que seria sua vida? Hã?








Post Scriptum: A discussão ainda não terminou, viu?!


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Bum!

Era o fim para Jorge. Recluso na sala da direção, a espera de alguém que nunca viria por ele. Por todo colégio agora o boato que rolava era o motivo pelo qual Jorge estava alí: tinha espancado um colega de turma, Matias. "Marginal", "criminoso" e "animal" era o que se escutava de mais brando pelos corredores. Jorge, agora sozinho, tornara-se o inimigo número um de todo colégio.

[Vinte e quatro horas antes]

Passava um pouco das seis da manhã. Jorge acabara de abrir os olhos e, ainda olhando para o teto, deu-se conta de que estava levemente atrasado. No ritual de sempre, levantou-se e foi ter seu banho matinal. Banho frio, "lavador da alma" como costumava pensar. Seu irmão mais novo, James, ainda dormia. Jorge o acordou carinhosamente, como costumava fazer toda manhã, para que ele também não se atrasasse para a aula. Sua mãe Filomena, a dona Filó, ainda estava na cama dormindo. Hipersônia era um efeito colateral comum dos quimioterápicos que dona Filó
tomava. Dona Filó tinha câncer de mama em estágio avançado. Seu pai... bem, digamos que "pai" era uma palavra que Jorge conhecia apenas do dicionário. Saiu de casa quando Eleonor, enfermeira que cuidava da sua mãe, vinha chegando.

Jorge estava terminando o colegial. Pretendia com muito orgulho se tornar enfermeiro. Compadecia-se enormemente com pessoas em necessidade e, achava, a vida de enfermeiro permitira que ele ajudasse um infinidade de pessoas. Namorava com uma garota chamada Rebeca, ou Beca para os íntimos, e, embora o relacionamento tivesse passado por alguns momentos difíceis, os dois estavam em uma fase boa. Seu melhor amigo era Fred, franzino e pouquinho, com o qual Jorge compartilhava idéias e gosto afins. A amizade de longa data começou quando Jorge entrou em uma briga para proteger Fred, que estava sendo esmurrado por um garoto bem maior que ele, um tal de Matias. A partir desse dia, Jorge e Fred tornaram-se bons amigos. Matias, por sua vez, não viu essa amizade com bons olhos.

Matias era a típica figura dominadora da escola. Com porte avantajado, nascido em berço privilegiado e com um histórico de excesso de regalias desde a infância, não tinha muito apreço por leis ou regras. Achava-se acima delas e, por isso, era constante motivo de problemas para os pais e para a coordenação do colégio. Tinha seu grupinho de amigos e amigas, que, dentro do colégio, era conhecido como "os playboys e as patricinhas". Nada de incomum. Nada.

Mas o dia de Jorge estava apenas começando. O fato de aquela sexta-feira não ter nada aparentemente de anormal era apenas uma impressão. De cara, logo ao entrar no prédio do colégio, Jorge esbarra com Matias, que, como de praxe, solta piadinhas provocativas e que tem graça apenas para eles e os da sua "gangue". Seguindo o corredor, percebe um aglomerado de alunos em volta do quadro de avisos. "Sairam as notas finais", escutou alguém dizendo. Com alguma dificuldade, espremendo-se em meio á multidão, Jorge consegue chegar a uma distância visualmente viável e percebe, para seu desgosto, que ficara em recuperação em matemática, matéria essa que não era lá uma de suas preferidas. Os últimos meses cuidando da sua mãe debilitada e do pequeno James tinham roubado o tempo antes reservado aos estudos. Tomado de uma leve pontada de desapontamento, Jorge foi para sala assistir as aulas daquele dia. Não conseguia tirar da cabeça aquela nota baixa. Ficava se lamentando. As aulas agora tinham duração infinita.

No final do quinto horário, entretanto, aconteceu algo que quebrou a monotonia. Seu telefone toca. Era da sua casa. "Mamãe", pensou. Pedindo licença ao professor, saiu da sala e retornou a ligação. Eleonor atendeu e de pronto passou o recado:

- Jorginho, é sobre sua mãe. - disse - Ela teve uma convulsão e foi levada para o hospital. Eu liguei para a ambulância e eles acabaram de levá-la. Estou indo para lá agora mesmo. Assim que puder, pegue James e vá também! - e desligou.

Jorge não conseguiu falar nada. Imediatamente lembrou do irmão e foi ao seu encontro. Nessa mesma hora, tocava para o fim da aula. O corredor logo viraria uma algazarra. Apressou o passo. Virando a esquina que dava acesso ao prédio infantil, avistou Beca, dando-se conta de que era a primeira vez que a via naquele dia.

- Beca, preciso dizer uma coisa. Minha mã... - mas ela, com a face tensa, interrompeu-o.

- Pera, Jorge. Eu preciso dizer uma coisa antes, uma coisa mais importante. - e parou por um momento, olhando para lugar nenhum. - Não como dizê-lo, mas o farei mesmo assim: não quero mais. - o levantou o olhos para Jorge.

- Mas... er... hã? - balbuciou Jorge, meio que sem saber o que se passava pela sua cabeça.

- Não quero mais. Quero terminar. Não gosto mais de você, a gente não dá mais certo. Na verdade - e, nessa hora, Beca suspirou - estou com outro há algum tempo. Espero que você entenda... Não quero confusão.

E saiu, deixando Jorge com a sensação de ter parado um míssil com o peito. O seu cérebro agora estava frenético, mas, mesmo assim, não poderia ficar alí. Continuo seu caminho na direção do irmão. Tinha de encontrá-lo.

Chegando na sala, olhou pelo vidro da janela e viu James colorindo um papel contentemente, alheio ao que estava por vir. Pediu permissão à professora e tirou o irmão da sala. "É algo muito urgente, professora", dissera à professora do pequeno James. Fora da sala, ajoelhado na frente do irmão e segurando suas mãos, olhou nos seus olhos e começou:

- James, a gente vai ter que ir embora agora. - e percebeu que os do irmão olhos começavam a marejar. - Mamãe teve um probleminha e foi para o hospital. A gente vai se encontrar com ela, ok?

O fato de falar na mãe, contudo, foi suficiente para fazer escorrer pelos olhos do pequenino lágrimas sem qualquer objetivo. Ele ficou lá, olhando para Jorge e lavando o pequeno rosto com as lágrimas que escorriam. Jorge abraçou-o enquanto a multidão começava a passar pelo corredor. Os dois ficaram alí. Passando em meio a multidão, Matias percebeu a cena e não perdeu a oportunidade de se aproximar. Olhou para Jorge e James alí e falou algo que o faria se arrepender pelos próximos trinta minutos.

- Que bonitinho. Quer dizer que agora que você não tem mais namorada, decidiu dar em cima do próprio irmão... - falou com o ar mais zombeteiro possível.

Escutando aquilo, veio á cabeça de Jorge a imagem de Beca novamente. E depois da mãe, e do irmão, e de Matias. Nessa hora, Jorge soltou o irmão, levantou-se e, sem enxergar direito o que fazia, explodiu seu punho direito contra a face do playboy, que foi ao chão. Depois veio o punho esquerdo, e o direito, em uma sucessão de golpes direcionados para o nariz, boca e bochechas de Matias. A multidão abriu uma roda e, aparentemente, estava gostando do espetáculo. Matias estava quase inconsciente quando alguns garotos apartaram os dois, segundos antes dos coordenadores chegarem. Matias foi levado às pressas à enfermaria. Jorge, ao som de protestos,
foi encaminhado à sala do diretor.

Tinha explodido. Mas isso era algo que ninguém iria entender. Ninguém.



[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...