terça-feira, 14 de outubro de 2008

Tempos de repressão

De repente, no corredor do colégio:

- Professora Mariêta, tem cabelo na...

- Para o seu bem, nem ouse rimar esta frase, mocinho!

- ...no cu?








Post Scriptum: Ah, a canalhice...


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

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Se tem uma coisa que sempre fascinou a humanidade é a grandiosidade das coisas da vida. Mas não só o amor, a coragem, o altruísmo e qualquer sentimento que eleve o homem da sua condição de mortal. Grandiosidade aqui entra com o sentido mais literal possível: o de ser grande. O mar, o céu, as estrelas, o longínqüo, as galáxias, buracos-negros, cometas, o infinito e tudo aquilo que só pode ser concebido pela abstração mais profunda. "Universo" é, talvez, a palavra mais vaga da língua dos homens, tamanha a sua vastidão. Em todo contexto que ela entra é com o sentido de algo maior, que engloba todas as outras coisas. Entretanto, não se constrói uma muralha sem que haja tijolos para tal. Tudo aquilo que nos é materialmente concebível, por maior que seja, tem na sua intimidade uma unidade fundamental, um monômero formador de tudo que se conhece. E essa unidade, que também impressiona por sua dimensão, já tinha sido idealizada lá na antigüidade, por volta de 400 a. C., por um rapaz bastante perspicaz chamado Demócrito que, com a ajuda do seu fiel escudeiro Léucipo, batizou-a de átomo.

Dava-se início a era das repartições, na qual o átomo era o ponto comum de tudo. Hoje sabe-se que não há nada que não seja formado por essa partícula - "partícula", inclusive, denota a menor parte de algo. Logo, esse foi um batismo bastante conveniente. E descobrir que tudo é formado por essas coisinhas é um momento que traumatizante. Imagine você descobrir que aquele brigadeiro reluzente do aniversário do seu irmão não passa de um aglomerado sem graça de partículas minúsculas, partículas essas também presentes no
rockymicleide que seu cachorrinho faz e enterra no jardim da sua casa. Ó! Chega dá uma gastura, ? Mas é verdade. Mesa, bolinha-de-gude, picolé, automóvel, sutiã, lapiseira, metralhadora, televisão, algodão-doce... tudo é feito daquelas coisinhas do brigadeiro e do rockymicleide do totó. Ah, meus Deus! O algodão-doce não! É, sim! Até o algodão doce, camarada. Contente-se. É a vida. Inclusive você, pessoa pensante, que se acha tão superior, também tem os mesmos constituintes de uma lesma. É de se desesperar, ? É... eu sei.

E não haveria de ser diferente. O ser humano também é um amontoado de átomos. Muitos. Para se ter idéia, um homem adulto possui cerca de - preste atenção agora - dez elevado à décima sexta potência de células. Isso mesmo. 10 elevado a 16. É um número mais ou menos assim: 10.000.000.000.000.000. É provável que um número desse num tenha nem nome, mas eu, em caso de dúvida, chamaria-o de dez quadrilhões. Pois bem. É essa ruma de célula. O mais bacana vem agora: cada célula tem a módica quantia de dez elevado à vigésima segunda potência de átomos. É algo como 10²², que, por sinal, é bem maior que o primeiro e, por isso, nem me atreverei a escrever aqui, muito menos dar nome. Se você não é nenhum oligofrênico e não tem problemas mentais tão severos vai descobrir, depois de uma continha simples, que um homem adulto tem por volta de dez elevado à trigésima oitava potência de átomos. Só pra comparar, a constante de Avogadro, que é a coisa mais inconcebivelmente estúpida de grande que já se teve notícia, é da ordem de 10²³. Logo, no dia que todos os meus átomos se transformarem em centavos de dólar, eu compro uma galáxia só pra mim.

Filosoficamente falando, contudo, noventa por cento do volume do átomo é algo conhecido como nada. Todo mundo sabe e Rutherford, aquele famoso ladrão de lâminas de ouro, já tinha batido o martelo e dito no ano de 1908. Para se ter outra idéia, se o núcleo do átomo (sim, átomos têm núcleo) fosse do tamanho de uma bola de basquete, o seu elétron menos energético (que está mais próximo ao núcleo) estaria situado a 32 Km de distância, e nesse espaço haveria nada. Ou seja, não haveria. Logo, voltando ao fato dos quadritensilhões de átomos do homem adulto, percebemos que não é lá grande coisa. É como se fôssemos um balão cheio de ar. Aliás, cheio de nada. Ou outra coisa cheio de algo que não está lá, sei lá.

A questão é que, filosoficamente falando de novo, o ser humano é uma entidade cheia de espaços vazios e isso foi comprovado cientificamente agora há pouco. E (momento sério do texto) é nesses espaços vazios que talvez residam as nossas fraquezas. O nosso vazio constitucional é cada vez mais preenchido por poder e orgulho. Faltam-nos a cara lavada, a alma exposta, a pupila com tonalidade inquietante, a bondade no coração e aquela vontade de mudar o mundo que todos nós temos quando somos crianças. Esse vazio talvez não esteja aí a toa. E talvez a gente não precise ser tão vazio.


[ "You take the blue pill and the story ends. You wake in your bed and believe whatever you want to believe. You take the red pill and you stay in Wonderland, and I show you how deep the rabbit-hole goes... Remember: all I am offering is the truth, nothing more." ]

Quando a gente acredita, a gente pode fazer chover...